A chamada Estratégia de Longo Prazo “Angola 2050”, que projecta o desenvolvimento do país nos próximos 27 anos, apresentada na sexta-feira, 19, volta a reiterar a necessidade de se acabar com a dependência do petróleo.
O documento de 400 páginas vai ser levado a auscultação pública em breve.
Com o debate a ser aberto dentro de dias, a Voz da América abordou especialistas que têm as suas reticências quanto aos resultados devido, precisamente, à forma como o documento foi elaborado.
O economista e coordenador do Centro de Estudos e investigação da Universidade Lusíadas de Angola, Heitor Carvalho, diz que no rigor há elementos que o levam a duvidar se este documento pode ser chamado de estratégico.
"Um plano estratégico tem que ser algo simples, não pode entrar no pormenor, não pode ter tantas páginas assim, tem que ser um documento que mobilize toda a sociedade”, sublinha Carvalho, quem destaca que “fazer um plano estratégico de um país até 2050 sem uma concertação com as demais forças políticas é algo que não faz qualquer sentido."
Quanto à ideia de se sair da dependência do petróleo, aquele académico acha ser descabida “porque em 2050 já o petróleo acabou”.
“O que devemos fazer é termos a noção clara de quando é que o petróleo vai acabar, coisa que não se discute, como é que vamos sair de uma situação hoje em 2023, para um momento em que vai deixar de existir petróleo”, pergunta Carvalho quem considera ser pouco prudente fazer uma estratégia de algo que até agora nunca aconteceu.
O economista e académico Augusto Fernandes também reprova a metodologia utilizada para elaboração desta estratégia.
"Qual é a metodologia a utilizar para a melhoria do ambiente de negócios, para atracção de investimento estrangeiro directo? Criar estradas para que haja uma boa circulação de pessoas e bens requer muito dinheiro, a estratégia para 2050 fala de 900 mil milhões de dólares em investimento estrangeiro directo, na economia nacional, o volume de investimento para repousar em Angola vai precisar de uma confiança muito grande e nós temos muitos itens que estão uns furos abaixo, que não
permitem a captação destes investimentos”, diz Fernandes.
Ele acrescenta que "seria necessário esperar mais alguns meses até sair o censo populacional do ano que vem porque estes dados poderão influenciar e contrariar os dados actuais e comprometer o PIB per capita e o orçamento público per capita que vem neste documento".
Por seu lado, o investigador e jornalista Rafael Marques jornalista afirma que o documento é mais "um embuste" para enganar os menos atentos.
"Havia uma estratégia de Angola até 2025, onde estão os resultados? Surgem multinacionais de consultoria que refazem basicamente estas estratégias antigas que já existem para distrair as pessoas, por que não apresentam os resultados das estratégias anteriores? Se não, é uma brincadeira que não engana ninguém!”, atira Marques.
Para o proprietário do blog makaangola.com, “isto é como um campeonato de futebol em que uma equipa tem péssimos resultados, está na cauda e diz que vai ganhar o próximo campeonato”.
Marques conclui que “os indicadores económicos de Angola não são bons, o combate à corrupção é o que sabemos, não há nenhuma seriedade neste documento".
Expectativa do Governo
Ao fazer a apresentação do documento na sexta-feira, 19, o ministro de Estado e da Cooordenação Económica reconheceu que o exercício do planeamento de longo prazo “é um processo complexo” sobretudo porque envolve uma variável incerta que é o futuro .
“É sempre muito difícil fazer previsões com exactidão para período muito afastados do presente”, disse Manuel Nunes Júnior quem defendeu ser preciso neste exercício “ter em consideração os cíclo políticos de governação que, num sistema democrático, não são variáveis e fáceis de serem previstas porque há sempre o princípio da alternância política”.
Ainda assim, afirmou não haver dúvidas de que a definição de uma estratégia de longo prazo até 2050 “é crucial para o nosso país”.
Para o ministro de Estado, “só assim poderemos estabelecer metas e nos podermos comprometer com soluções que suplantam os ciclos de planeamento quinquenais e anuais e poderemos, por conseguinte, proceder a uma avaliação objectiva dos resultados obtidos”.
Na sua apresentação, explanou que o presente plano teve como base a estratégia de desenvolvimento de Angola até 2025.