O secretário-geral Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou que o mundo está a ficar desequilibrado à medida que as tensões geopolíticas aumentam e que os líderes não conseguem unir-se para responder aos crescentes desafios globais.
António Guterres fez esta alerta nesta terça-feira, 19, no seu discurso de abertura da 78ª sessão da Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque.
A governação global está “parada no tempo” num momento em que instituições multilaterais modernas e fortes são mais necessitadas do que nunca.
"Não podemos resolver eficazmente os problemas tais como eles são se as instituições não refletirem o mundo tal como ele é, em vez de resolverem problemas, correm o risco de se tornarem parte do problema", apontou Guterres ao refletir sobre este ano em que, segundo ele, a ONU esteve paralisada pelas divisões sobre a guerra na Ucrânia.
O secretário-geral alertou que “as divisões aprofundam entre as potências económicas e militares, e entre o Norte e o Sul, o Leste e o Oeste”, e, ante este cenário, ele admitiu que "estamos cada vez mais perto de uma grande fratura nos sistemas económicos e financeiros e nas relações comerciais, que ameaçam uma internet única e aberta, com estratégias divergentes em tecnologia e inteligência artificial e estruturas de segurança potencialmente conflitantes".
António Guterres voltou a apelar a reformas profundas na arquitetura financeira internacional “disfuncional, ultrapassada e injusta”, incluindo um pacote de resgate de 500 mil milhões de dólares por ano para os países mais endividados.
O caos devido às mudanças climáticas
Noutro ponto, ele disse que a resposta mundial às alterações climáticas estão “terrivelmente aquém” do desejado.
O secretário-geral exigiu um "Pacto de Solidariedade Climática, no qual todos os grandes emissores façam esforços adicionais para reduzir as emissões, e os países mais ricos apoiem as economias emergentes com financiamento e tecnologia para o fazer".
“África tem 60% da capacidade solar mundial, mas apenas 2% dos investimentos renováveis”, enumerou.
"Os países desenvolvidos devem finalmente disponibilizar os 100 mil milhões de dólares para a ação climática dos países em desenvolvimento, bem como duplicar o financiamento da adaptação até 2025", voltou a pedir o secretário geral que, ao se referir à inteligência artificial, que descreveu como um tema de admiração e medo, anunciou a criação de um painel de alto nível para lhe informar sobre suas implicações até o final do ano.
Neste particular, Guterres sugeriu uma nova entidade global sobre Inteligência Artifical "que forneça fonte de informação e conhecimentos especializados para os Estados-Membros, equivalente ao Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas".
Condenação da guerra
No discurso que abriu a reunião, ele foi enfático na sua condenação da invasão da Ucrânia pela Rússia e das suas ramificações prejudiciais mais amplas.
"Se todos os países cumprissem as suas obrigações nos termos da Carta das Nações Unidas, o direito à paz estaria garantido. Quando os países quebram esses compromissos, criam um mundo de insegurança para todos. Prova A, a invasão da Ucrânia pela Rússia", apontou.
Para Guterres, a guerra, em violação da Carta das Nações Unidas e do direito internacional, desencadeou um nexo de horror: "vidas destruídas, direitos humanos violados, famílias dilaceradas, crianças traumatizadas, esperanças e sonhos destruídos"
Ele acrescentou ainda que para além da Ucrânia, a guerra tem sérias implicações e "as ameaças nucleares colocam-nos a todos em risco".
Derna, "retrato triste" do mundo
O secretário-geral da ONU citou as inundações em Derna, na Líbia, como “um retrato do estado do nosso mundo” e um sinal do que acontece quando as alterações climáticas se encontram com uma governação deficiente".
"Aqueles que morreram em Derna foram “vítimas de anos de conflito, vítimas do caos climático, vítimas de líderes – próximos e distantes – que não conseguiram encontrar um caminho para a paz", disse Guterres, para quem aquela cidade líbia é um "retrato triste do estado do nosso mundo", onde inundam "desigualdades, injustiças, e incapacidade de enfrentar os desafios que se colocam no nosso meio".
"Excelências, o nosso mundo está a ficar desequilibrado", concluiu o secretário-geral da ONU.