Estados Unidos e Cabo Verde regulam deportação de cidadãos

Arquipélago integra lista de"países não cooperativos" mas memorando vai ultrapassar o problema.

Os governos dos Estados Unidos e de Cabo Verde assinam nesta terça-feira, 24, na capital americana, um memorando que regula a deportação de cidadãos dos dois países.

Washington tem deportado muitos jovens para o arquipélago, mas a inexistência de um procedimento está na origem de vários incumprimentos por parte de Cabo Verde que integra uma lista de países não cooperativos.

O embaixador de Cabo Verde em Washington, Carlos Veiga, disse à VOA que “esta situação não era nada confortável por poder levar o país a sofrer sanções, como aconteceu com a Gâmbia durante algum tempo”.

Com o documento a ser assinado em Washington, “as duas partes terão um instrumento regulador que define o processo”, com informação atempada de qualquer deportação, “um periodo de advocacia a ser usado pelas autoridades cabo-verdianas, nomeadamente o consulado (em Boston) e que respeita a bilateralidade”, ou seja aplica-se nos dois sentidos.

Carlos Veiga, embaixador de Cabo Verde nos Estados Unidos

O antigo primeiro-ministro cabo-verdiano considera que este é um primeiro e importante passo para minimizar o problema das deportações.

Ao mesmo tempo, Carlos Veiga diz estar a negociar com várias entidades, desde públicas a privadas, passando pela comunidade cabo-verdiana, um programa de prevenção de deportações aqui nos Estados Unidos e de integração dos que forem deportados em Cabo Verde.

“A ideia é montar um projecto que previna as deportações, trabalhando com a comunidade e os Estados onde há cabo-verdianos e, para os que forem efectivamente deportados, criar condições para a sua integração em Cabo Verde”, explicou o embaixador em Washington.

Deportação, problema sensível

A integração dos deportados em Cabo Verde tem sido problemática nas últimas duas décadas.

Em virtude de terem cometido crimes nos Estados Unidos, muitos deportados que não têm familiares nem qualquer tipo de ligação ao país enveredaram-se pelo crime, também por falta de um programa de acolhimento.

Muitos, no entanto, têm conseguido retomar a vida no país, nomeadamente através da iniciativa privada.

Até 2015, Cabo Verde tinha recebido 1300 jovens deportados, na sua maioria provenientes dos Estados Unidos e há dezenas à espera de serem enviados para o arquipélago.