Pouco mais de seis meses após a sua investidura como Presidente de Angola, João Lourenço contempla uma economia debilitada.
A sua provável ascensão à presidência do MPLA, em Setembro, significa que o novo líder angolano estará em breve sob alta pressão para produzir resultados. Luís Costa Ribas,
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Há quatro anos, as receitas petrolíferas representavam mais de 60 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) de Angola.
Mas os preços do petróleo caíram, o PIB caiu abruptamente, e sobreveio uma crise económica.
Em 2014, as receitas de petróleo representaram mais de 60 por cento do PIB, mas, à medida que os preços do petróleo caíram, o PIB caiu de uma média anual de 10,3 por cento para 10 por cento para 1,5 por cento desde 2015.
http://www.worldbank.org/en/country/angola/overview
A inflação subiu, os salários perderam poder de compra e a pobreza aumentou.
Não tinha de ser assim, diz José Alves da Rocha, director do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola.
Ele observa que a crise de 2009 foi um aviso de que a economia precisava ser menos dependente do petróleo
"Na prática nada foi feito. Porque entretanto o preço do barril de petróleo subiu, voltou a proporcionar à economia nacional receitas fiscais e receitas em divisas elevadas, e como tal não houve a preocupação de manter um programa e aplicar os programas que tinham sido aprovados pela Assembleia Nacional que visavam reformular a economia nacional", diz Alves da Rocha.
Os planos previam a revitalização do sector agrícola, o crescimento da economia não petrolífera e a reforma do Estado.
Em vez disso, Angola enfrenta um crescimento económico atrofiado, défices descontrolados e uma dívida pública gigantesca. Só este ano, o serviço da dívida pública está estimado em 31% do PIB, quase cinco vezes o orçamento da saúde e educação.
Carlos Rosado de Carvalho, professor de economia e director do jornal Expansão, acredita que o recente aumento dos preços do petróleo ajudou a estabilizar as contas externas.
Agora, diz, o maior desafio de João Lourenço é a estabilização macroeconómica.
No curto prazo, isso significa gerir as reservas de divisas, promover o crescimento e reduzir a inflação.
"Para tal existe um programa. Esse programa no meu ponto de vista é um bom programa. Diria mesmo que não seria muito diferente se fosse feito pelo Fundo Monetário Internacional, no essencial. Mas, agora, o desafio é a implementação desse programa e é aí que entra a parte política", afirma Rosado de Carvalho.
Aquele especialista acrescenta que o problema é o MPLA.
Até agora, dizem os críticos, a economia serviu para enriquecer as elites do partido e as coisas não mudarão se este bloquear as reformas fundamentais.
Carlos Rosado de Carvalho acrescenta:
"É necessário conferir maior transparência na sociedade e nos negócios angolanos. E isso tem sistematicamente esbarrado com, digamos, alguma oposição no seio do MPLA. É o caso, por exemplo, do combate à corrupção. O que acontece é que não tem havido vontade política de fazer a diversificação da economia porque, justamente, isso implica mexer com muitos interesses. A minha esperança é que a diversificação se faça não porque há uma vontade política mas porque nós não temos outra alternativa."
Alves da Rocha concorda com a necessidade de diversificação económica, mas a agricultura, a indústria e a construção estão em crise.
Além disso, Angola importa quase tudo e depende fortemente da moeda estrangeira para pagar fornecedores externos.
"O risco de as reservas internacionais terem diminuído e estarem justamente nesse indicador de cinco meses de importação é justamente algumas actividades e algumas empresas, poderem falir, poderem fechar as portas, o que está a acontecer, no presente. E naturalmente que isto tem consequências ao nível do desemprego e ao nível das condições de vida da população", explica Alves da Rocha.
Aquele especialista acredita que os angolanos terão de viver com menos ainda. Ele prevê que um declínio no consumo público e privado, porque a escassez de divisas faz com que a oferta caia e os preços subam.
Ajustamentos precisam-se, mas serão eles a solução?
Alves da Rocha diz que "as famílias angolanas terão de fazer um ajustamento de curto prazo em baixa, diminuindo a sua capacidade de satisfação das necessidades".
Para ele o "próprio Estado vai ter que ajustar o seu consumo público em baixo, porque não tem recursos para fazer de outra maneira. E, portanto, no curto prazo, de ajustamentos macroeconómicos, é isto que a gente vai ter de fazer."
Os dois economistas alertam para o agravamento do impacto da pobreza, e a possível agitação social que isso pode causar, num país onde 60% da população vive com menos de 2 USD por dia.
Vitor Silva, director do Jornal de Angola diz que os angolanos querem respostas rápidas do novo Governo, aos duros problemas do dia-a-dia.
"A partir do momento em que José Eduardo dos Santos abandonar a liderança do MPLA, a cobrança será directa a João Lourenço e não haverá mais período de graça para justificar o não cumprimento das promessas".
Promessas como a moralização da vida pública, para que os recursos do país sejam para todos. Setembro vai chegar rapidamente e João Lourenço não tem muito tempo para apresentar reformas concretas e, mais o que isso, resultados.