A Argentina enfrenta uma difícil situação, tanto a nível económico, que se arrasta há muitos anos, como político. Muitos não entendem a causa dessa crise num país que atingiu altos níveis de estabilidade social e político e índices económicos muito bons num passado não muito longínquo. Mas enquanto o país tenta encontrar a retoma da economia, a presidente Cristina Kirchner enfrenta mais uma forte crise política no último ano de mandato.
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Tudo começou quando a Argentina entrou em moratória, ou seja, começou a renegociar a sua dívida com quem possuía títulos do Governo, pois não tinha fundos para pagá-la. O Executivo ofereceu um pagamento 60 por cento menor do que os títulos valiam inicialmente, que foi aceite por 93 por cento dos credores, que temiam não ser pagos. Os outros 7 por cento, que não aceitaram o pagamento em valor menor, são os chamados fundos abutres, que lutam na justiça pelo pagamento integral do que lhes é originalmente devido.
Lia Baker Valls Pereira, professora de economia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e conhecedora da situação na Argentina, explica:
“Isso é o que complicou a situação da Argentina. Ela já estava numa situação ruim, desde que decretou a moratória, ela não estava conseguindo se financiar no mercado internacional. A Argentina tem tido ha algum tempo um clima econômico muito desfavorável, uma falta de confiança na politica do governo.”
Para a professora Lia Baker Valls Pereira, actualmente a Argentina tenta fortalecer a sua aliança comercial com a China, um importante parceiro que poderia ajudar a reerguer a economia do país. Entretanto, segundo ela, é preciso que o Governo argentino resolva seus problemas económicos e políticos para que possa crescer novamente.
Pagar as dívidas bilionárias aos credores, e voltar a ter confiança do mercado internacional, são passos fundamentais, mas esta tarefa não tem sido fácil fácil para a Presidente Cristina Kirchner.
Os problemas económicos da Argentina revelam também a precariedade do sistema político do país. O Governo de Cristina Kirchner sofre duras criticas devido às suas acções.
A recente morte do procurador Alberto Nisman agudizou ainda mais a situação já por si precária, como diz a professora Valls Pereira.
“A acho que a questão política sempre estava meio no plano de fundo. No período que você tem muito dinheiro, eles fizeram vários programas que conseguiram sustentar o apoio de parte da população. Mas agora isso eles não tem mais como fazer. Essas questões políticas que ficaram às vezes nos bastidores, quando estava crescendo, alguns começaram cada vez a se focar mais. E agora com essa historia recente, uma resposta conturbada por parte do governo, também só tende a piorar, dada as manifestações que tem ocorrido na Argentina.”
Recorde-se que o procurador Nisman foi encontrado morto no seu apartamento um dia antes de comparecer ao Congresso para justificar a acusação contra Cristina Kirchner, o chanceler Héctor Timerman, e outros integrantes do governo, de encobrir ex-funcionários do Governo iraniano pelo atentado anti-semita de 1994 em Buenos Aires, que deixou 85 mortos e 300 feridos. A presidente argentina chamou a acusação de "disparate".
Na semana passada, uma marcha promovida por seis procuradores da República tomou conta das ruas de Buenos Aires, uma acção criticada pela Presidente Cristina Kirchner.
A presidente está no último ano do seu segundo mandato e as eleições estão previstas para 18 de Dezembro.