Empresários e analistas políticos angolanos com preocupações diferentes sobre visita de João Lourenço aos Estados Unidos

Presidente João Lourenço e Presidente Joe Biden na Casa Branca

Empresários querem mais reformas internas para facilitar investimentos, enquanto analistas políticos vêm interesses dos Estados Unidos que “nada têm a ver com a democracia”

O apelo ao investimento norte-americano em Angola, feito pelo presidente João Lourenço à margem da Cimeira EUA-África, é visto por alguns empresários e analistas como um sinal de boas intenções que pode esbarrar num mau ambiente de negócios, excesso de burocracia e falta de transparência no país.

Isto ao mesmo tempo que alguns analistas angolanos dizem que a cimeira Estados Unidos/África em que Angola participa se destina mais a garantir a segurança do que a democracia.

O empresário Edgar Oseais disse que uma visita de estado como a que o presidente João Lourenço efectua aos Estados Unidos não é suficiente para garantir investimentos sendo necessário que isso seja acompanhado de mudanças internas.

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“Pior seria não fazer nada, mas esse esforço pode ir por água-abaixo na eventualidade de as coisas não mudarem a nível local”, disse notando a questão dos entraves criados pela burocracia e ainda o facto de que “há problemas da falta de transparência nalguns aspectos".

“Isto mancha o empresário que queira sair do sector petrolífero”, acrescentou afirmando ainda que Angola “precisa de tudo” pelo que isso é sinal para todos da existência de um mercado mas “o problema é como satisfazer este mercado”

O presidente da Associação Industrial Angolana, José Severino, refere que o país adormeceu à sombra do petróleo e perdeu a carruagem da Lei de Oportunidade e Crescimento em África (AGOA na sigla inglesa), ao abrigo da qual países africanos que obedeçam a certos critérios podem exportar os seus produtos industriais livre de impostos aduaneiros americanos.

“Não desenvolvemos, ao contrário da Namíbia e Quênia, outras ferramentas agrícolas e na indústria transformadora que pudessem ter acesso ao mercado americano, uma excelente porta de entrada porque tem muitas facilidades”, disse.

Severino fez notar que a fala de incentivos e apoio para se fazer uso dessa oportunidade levou industriais angolanos a abandonarem o pais, procurando oportunidades noutras nações.

Ele deu “o exemplo de dois angolanos que, não podendo fazer no país, exportam a partir da Namíbia, no ramo dos vestuários”.

Café, sisal, peixe seco e derivados e produtos têxteis são alguns dos bens que José Severino julga exportáveis.

A visão política da cimeira

Por outro lado analistas políticos angolanos consideram que aspectos relacionados com a segurança são aqueles que mais preocupam os Estados Unidos em relação ao continente africano.

O político e antigo parlamentar angolano Lindo Bernardo Tito diz que dos três pilares elencados por Joe Biden de suporte a esta cimeira apenas um interessa aos norte-americanos.

"O pilar da democracia e o da boa governação não se enquadram ao perfil do presidente João Lourenço”, disse.

“O que os americanos buscam é o terceiro pilar nomeadamente a Segurança Internacional”, disse afirmando que no que diz respeito a Angola a intenção do governo americano é afastar Angola da Rússia.

Quase o mesmo entendimento tem o especialista em Relações Internacionais Osvaldo Correia Caholo para quem "a comunidade internacional nunca se importou com boa governação coisa nenhuma”.

O também professor universitário, pensa que este tipo e formato de cimeiras tornam os lideres africanos mais dependentes procurando a sua legitimação.

O jurista Pedro Caparakata vai mais além e acredita que a principal motivação da inclusão do chefe de estado angolano na cimeira de Biden é mais a de reforçar a hegemonia deste.