O Skate está a ser usado como ferramenta social para educar e empoderar crianças em Maputo. Quem lidera esse trabalho é Francisco Vinho, fundador da Maputo Skate, uma organização sem fins lucrativos que capacita crianças e jovens entre 5 e 17 anos através da prática do skate.
Em entrevista à Voz da América, Francisco explicou o programa Skate e Educação, os planos para o futuro e os maiores desafios que a associação e o skate enfrentam em Moçambique.
O skate sempre foi importante na vida de Francisco, pois o afastou do mundo da marginalidade, e também lhe deu força para construir uma vida dedicada à família e a ajudar os outros através dessa atividade. Hoje ele é um empresário com vários sonhos, entre eles o de tornar a prática do skate uma modalidade desportiva reconhecida no país.
“Estamos a ver a possibilidade de incluir o skate na Federação de Patinagem, já que o skate é uma modalidade olímpica. Temos esse interesse de espalhar o skate por todo o país, inclusive nas escolas como uma atividade mais frequente."
Francisco fundou a Maputo Skate em 2006 e já trabalha há muitos anos para que a indústria do skate funcione em Moçambique.
"É possível viver de skate. Através de aulas, lojas. Estamos a lutar por isso. Essa é a minha maior luta: de ver o skate a funcionar em todas as vertentes que envolve a modalidade".
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Um dos maiores desafios que o empresário enfrenta é acabar com a discriminação contra o skatista. Francisco contou que quando alguém o vê com um skate logo pensa que ele é um marginal, que vai cair, vai aleijar-se.
"Vamos respeitar. O skatista não é marginal. Só escolheu praticar uma modalidade de alto risco, é a nossa escolha e nós gostamos. Estamos felizes com o que fazemos. Respeitem o skatista!".
Skate e Educação
O programa Skate e Educação contra o Álcool e a Droga na Escola é realizado durante o tempo livre e as férias dos estudantes. Quem estuda à tarde participa do programa de manhã e vice-versa. Os alunos praticam skate por uma hora e depois participam em outras actividades que incluem informática, xadrez, fotografia, desenho, pintura entre outras, assim como palestras educativas sobre cidadania.
"Usamos o skate como uma ferramenta de acção. As crianças quando chegam até nós recebem educação, capacitação, incentivo para continuar com os estudos e serem pessoas de bem na sociedade".
O trabalho não termina aí, pois Francisco contou que o programa Skate e Educação procura envolver também os pais para monitorar a evolução do comportamento das crianças.
"Eles são os nossos olheiros para acompanhar as crianças, para saber se está bem em casa, se estão comportadas".
Entre as escolas que recebem o programa de Skate e Educação estão: Escola Filipe Samuel Magaya, Escola Francisco Manyanga e a Escola Francesa de Maputo.
Primeiro parque de skate de Maputo
Francisco Vinho queria construir uma pista de skate em frente à sua casa para que ele e os dois filhos pudessem praticar o desporto. Mas não demorou muito para ele perceber que as crianças do bairro também precisavam de um ambiente seguro e saudável para passar o tempo. Então Francisco mudou de ideia e arranjou uma maneira de acomodar o seu sonho e fazer o bem.
No dia 1 de Dezembro de 2019, foi feita a inauguração não oficial do #luisvinhoskatepark, projecto social inciado com fundos de Francisco Vinho e apoiado pela Skate World Better e Wonder Around The World. O #luisvinhoskatepark está localizado no bairro Khongolote, Quarteirão 89, nº 4413-A Matola. Segundo o fundador da associação, mais de cem crianças participam do projecto da Maputo Skate.
"Estamos muito felizes. As crianças já podem frequentar um ambiente seguro e saudável e praticar o skate e participar dos nossos programas de educação."
Desafios do Projecto Maputo Skate
Oferecer um ambiente seguro a fim de que crianças e jovens possam praticar o desporto e participar de oficinas não vem sem um custo. De acordo com Francisco Vinho, a Maputo Skate recebe apoio de amigos, singulares, empresas parceiras que abraçaram a causa de educar e empoderar as crianças através do skate. A associação também oferece aulas de skate privadas para qualquer pessoa que queira aprender a modalidade, além de ensinar a prática em escolas privadas.
Mesmo assim faltam material didáctico, skates, equipamentos de protecção, ferramentas de trabalho.
"Temos tido muitas dificuldades. O nosso parque está menor, gostaríamos de ter uma espaço maior, uma própria escola, que tenha ensino médio, com skate incluso, e mais apoio".
Para arrecadar fundos, Francisco Vinho posta nas redes sociais. A Maputo Skate tem uma linha de artigos relacionados com o skate, como camisetas, chapéus e outras peças de merchandising que são vendidas numa loja de skate em Maputo e nos eventos onde tem participado. Tem também organizado oficinas fora das escolas nos períodos de férias, onde as crianças com possibilidades pagam um valor para participar.
Competições
A Maputo Skate está a mudar a imagem do skate em Moçambique, disse Francisco Vinho. No ano passado a associação conseguiu organizar sete campeonatos e em 2019 foram oito.
Francisco contou que além dos campeonatos nacionais, também procura levar jovens a competir em outros países. Em 2017, o jovem Noel Cossa, promessa da Maputo Skate, foi competir na África do Sul. Noel, que disputou na categoria avançado, ficou na quarta posição.
Agora, Noel Cossa está a preparar-se para disputar um campeonato de skate em Angola nos dias 14 e 15 de Dezembro. A ida de Francisco e Noel já foi confirmada.
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