A votação para as presidenciais na Tunísia começou no domingo, sem uma verdadeira oposição ao atual presidente Kais Saied, que é amplamente apontado como vencedor, uma vez que os seus críticos mais proeminentes estão presos.
A concorrer contra o atual Presidente estão o antigo legislador Zouhair Maghzaoui, que apoiou a tomada de poder de Saied e Ayachi Zammel, um empresário pouco conhecido que tem estado na prisão desde que a sua candidatura foi aprovada pela ISIE no mês passado. Zammel enfrenta atualmente mais de 14 anos de prisão, acusado de ter falsificado assinaturas de apoio para poder concorrer às eleições.
A votação teve início às 8h00 e deverá terminar às 18h00. A comissão eleitoral ISIE afirmou que os resultados preliminares deverão ser conhecidos o mais tardar na quarta-feira.
Antes do dia da votação, não houve comícios de campanha ou debates públicos e quase todos os cartazes de campanha nas ruas da cidade eram de Saied. Com poucas esperanças de mudança num país atolado em crise económica, o estado de espírito de grande parte do eleitorado tem sido de resignação. “Não temos nada a ver com a política”, disse um jovem de 22 anos que só deu o seu primeiro nome por medo de represálias. Nem ele nem os seus amigos tencionam votar, disse, porque acreditam que é “inútil”.
Depois de chegar ao poder com uma vitória esmagadora em 2019, Saied, agora com 66 anos, liderou uma ampla tomada de poder que o levou a reescrever a Constituição.
Seguiu-se uma crescente repressão da dissidência e vários críticos de Saied de todo o espetro político foram presos, suscitando críticas tanto no país como no estrangeiro. A Human Rights Watch, sediada em Nova Iorque, afirmou que mais de “170 pessoas estão detidas na Tunísia por motivos políticos ou pelo exercício dos seus direitos fundamentais”.
Entre as figuras da oposição detidas contam-se Rached Ghannouchi, líder do partido da oposição de inspiração islâmica Ennahdha, que dominou a vida política após a revolução. Também detido está Abir Moussi, líder do Partido Destouriano Livre, que os críticos acusam de querer trazer de volta o regime que foi deposto em 2011.
Três anos depois de Said ter tomado o poder de forma avassaladora, esta eleição é vista como o capítulo final da experiência democrática da Tunísia. O país do Norte de África orgulhou-se durante mais de uma década de ter sido o berço das revoltas da primavera Árabe contra a ditadura.
Pouco entusiasmo
O ISIE disse que se espera que cerca de 9,7 milhões de pessoas compareçam às urnas, mas a quase certeza de uma vitória de Saied e as crescentes dificuldades do país inspiraram pouca ou nenhuma vontade de votar.
O The International Crisis Group afirmou na sexta-feira, 4, que “o discurso nacionalista do Presidente e as dificuldades económicas corroeram qualquer entusiasmo que os cidadãos comuns possam ter sentido em relação às eleições”.
“Muitos temem que um novo mandato para Saied só aprofunde os problemas socioeconómicos do país, bem como acelere a deriva autoritária do regime”, afirmou.
Os eleitores não têm praticamente qualquer alternativa, depois de o ISIE ter impedido 14 candidatos de concorrerem, alegando insuficiência de apoios, entre outros aspetos técnicos. Centenas de pessoas protestaram na capital na sexta-feira, marchando ao longo da avenida Habib Bourguiba, fortemente policiada, enquanto alguns manifestantes exibiam cartazes denunciando Saied como um “faraó que manipula a lei”.