Eleições em Moçambique: contagem continua, resultados já contestados

  • AFP

Dois homens analisam os resultados das eleições afixados no exterior de uma sala de aula utilizada como assembleia de voto na Beira, a 10 de outubro de 2024, no dia seguinte às eleições nacionais em Moçambique.

Houve denúncias de eleitores com dois boletins de voto na mão, boletins de voto pré-preenchidos a favor da Frelimo e assembleias de voto que fecharam com votantes à espera

Os boletins de voto ainda estão a ser contados em Moçambique, nesta quinta-feira, 10, um dia depois de uma eleição tensa, mas calma, em que Venâncio Mondlane, apoiado pelo Podemos, já está a reclamar a vitória, tal como o partido no poder, a Frelimo.

“Esta manhã, devemos declarar a nossa vitória a nível nacional”, disse no Facebook Mondlane, de 50 anos, que durante a campanha apelou aos seus apoiantes para ‘saírem à rua’ para ‘reivindicar e defender esta pátria’.

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Por outro lado, um observatório que se diz independente, mas que foi criado por apoiantes da Frelimo, fez circular consolidações com menos de 5% dos votos, nas quais o partido-estado, no poder desde a independência há 49 anos, saiu vencedor.

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Alguns membros das assembleias de voto em Maputo apresentam falta de conhecimentos técnicos

A Comissão Nacional de Eleições (CNE) tem até 15 dias para anunciar os resultados dos votos que vão determinar o próximo Presidente e renovar o Parlamento e os governadores provinciais poderia levar até 15 dias para se consolidar.

Mas resultados muito parciais já estão circular nas redes sociais, com cada lado a destacar resultados promissores.

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Eleitores da província de Nampula apelam ao respeito pela vontade popular

“As primeiras tendências mostram um confronto entre a Frelimo e Venâncio”, diz o investigador do Instituto de Estudos de Segurança, Borges Nhamirre, quem lembra que "o que conta é o que a comissão eleitoral vai anunciar” como resultados consolidados.

Estas eleições realizam-se num contexto económico sombrio, enquanto os ataques de insurgentesno norte do país continuam a frustrar as esperanças da produção de gás natural no Oceano Índico.

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Partidos da oposição apelam vigilância de votos e Frelimo pede serenidade na Beira

O projeto liderado pelo grupo TotalEnergies, inicialmente estimado num investimento de 20 mil milhões de dólares (18,25 mil milhões de euros), está paralisado desde 2021 em Moçambique, que continua a ser um dos países mais pobres do mundo.

Provar a fraude

Num país ainda assombrado por uma guerra civil (1975-1992), que custou um milhão de vidas e só terminou em 2019, com um acordo de paz final, a possibilidade de violência política preocupa muitos moçambicanos.

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Moçambique, primeiros observadores eleitorais da União Europeia enviados para o terreno

Mas a rua “não vai seguir Venâncio cegamente, ele vai ter de provar a fraude”, diz Nhamirre.

No dia da votação, foram registadas irregularidades: eleitores vistos com dois boletins de voto na mão em vez de um, boletins de voto pré-preenchidos a favor da Frelimo interceptados, assessores da oposição à porta das assembleias de voto e assembleias de voto que fecharam apesar de as pessoas na fila insistirem que tinham chegado a tempo.

Mas não foram registados quaisquer atos de violência ou incidentes graves, segundo a CNE e observadores.

“É sobretudo agora que vai começar a fraude, com os resultados a serem publicados gradualmente”, sublinhou um analista que quis manter o anonimato.

“Se Venâncio mostrar uma liderança sólida, a situação vai tornar-se tensa muito rapidamente”, acrescentou.

Nas eleições de 2019, Frelimo obteve um resultado de 73 por cento.

Vários especialistas sugerem que a CNE poderá anunciar um resultado um pouco mais modesto desta vez, a fim de manter a Frelimo no poder, mas evitar a violência.

Durante as eleições autárquicas do ano passado, a oposição denunciou uma eleição “roubada”.

O Presidente cessante, Filipe Nyusi, apelou na quarta-feira a um ato eleitoral “calmo”, pedindo a todos que evitem “anunciar os resultados antecipadamente”.

Em Maputo, as escolas que serviram de assembleias de voto regressaram na quinta-feira ao alegre ruído dos seus recreios, enquanto os mercados voltaram à sua atividade frenética no meio dos engarrafamentos de trânsito.