Os negros representam 53% da população brasileira, mas apesar de serem maioria no país as demandas específicas dos afrodescendentes não recebem destaque nesta corrida presidencial no Brasil.
Para representantes de movimentos negros, na campanha para presidente e governadores deste ano faltam discussões sobre políticas públicas direcionadas para problemas graves como, o racismo institucionalizado no país, as piores condições de vida dos descendentes de africanos, além das mortes de mais de 30 mil jovens negros por ano assassinados no país.
Ângela Maria da Silva Gomes, coordenadora nacional do Movimento Negro Unificado, lamenta a falta de "um olhar" mais profundo dos candidatos à presidência para as questões relacionadas com o grupo que representa a maioria da população.
"Somos a maioria da população brasileira, mas o país continua com políticos governando como se fôssemos invisíveis. É a primeira vez que a gente tem uma candidata indígena negra, mas ela não tem levantado a bandeira da discriminação, da promoção da igualdade racial nem para os povos indígenas"", disse.
A coordenadora do Movimento Negro Unificado destaca que as propostas que apareceram na disputa deste ano, voltadas para os afrodescendentes, são basicamente continuidades do atual governo do Partido dos Trabalhadores.
"A única que levantou a voz em relação à construção de uma política de promoção da igualdade racial foi a presidente Dilma, com a política de cotas, aprovada nesse Governo e a criação de um ministério, que é a Secretaria de Promoção à Igualdade Racial. Mas, as propostas são tímidas. Os demais candidatos só passaram a colocar a questão do racismo no Brasil a partir deste fim-de-semana quando foi entregue um documento dos movimentos negros nacionais em relação a política de combate ao racismo."
Ângela Gomes destaca que, apesar da baixa discussão do assunto nas eleições, o vencedor da disputa pelo comando do país vai ter enfrentar muitos desafios para garantir uma vida mais digna aos negros. A necessidade mais urgente é o combate ao racimo relacionado com o extermínio da juventude assassinada no Brasil.
"A outra necessidade é a política em relação à implementação da construção de um currículo da igualdade. A gente precisa de criar educadores nas universidades e a universidade precisa ter acesso de população negra", aponta.
"E a outra que eu acho que é importante é a titulação das terras quilombolas. A gente tem mais de três comunidades quilombolas, só mil certificadas e apenas oito comunidades tituladas, com títulos e direito a propriedade", completa a activista.
Para Ângela Gomes, os governos precisam entender que enfrentar hoje os problemas que afligem os descendentes de africanos é atender a maioria da população do país.
"A gente ainda está num país de negros governados e olhados como se vivêssemos em um país branco, europeu. A gente precisa construir outro modelo de país. O Brasil é um país racista. Quando o Governo faz política de inclusão dos negros elas atendem a todos os brasileiros, porque eles são a maioria", explica a coordenadora nacional do Movimento Negro Unificado.
As eleições presidenciais no Brasil serão realizadas do dia 5 de Outubro. Pelas pesquisas, a candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT), lidera a disputa com 37% das intenções de votos, contra 30% de Marina Silva (PSB) e 17% de Aécio Neves (PSDB).