Dois economistas angolanos manifestaram apoio e ceticismo quanto ao mais recente comunicado do Fundo Monetário Internacional (FMI) que avisou de possíveis “derrapagens” na economia angolana.
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Economistas angolanos divergem quanto às últimas “ receitas” do FMI – 2:24
A conclusão é do Conselho Executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgada nesta segunda-feira, 24, em Washington, numa nota no qual alerta que “os esforços de consolidação orçamental diminuíram e os amortecedores construídos durante o Programa de Financiamento Ampliado, de 2018 a 2021, estão a ser corroídos por derrapagens orçamentais decorrentes de despesas de capital mais elevadas e de uma reforma mais lenta dos subsídios aos combustíveis".
Veja Também FMI estima crescimento da economia angolana, mas alerta para derrapagens orçamentaisAquela instituição financeira internacional defende uma maior austeridade, mais esforço de consolidação orçamental e combate às “derrapagens”.
Heitor Carvalho, professor e investigador económico, entende que o FMI está a pedir para que Angola deixe de fazer gastos desnecessários e empenhar mais os seus recursos naquilo que chama de “boas despesas”.
Veja Também Incertezas rodeiam Corredor do LobitoCarvalho diz estar perfeitamente de acordo com o FMI.
"Quando o Governo gasta milhões e milhões de dólares no caso por exemplo dos subsídios aos combustíveis, gasta qualquer coisa como dois biliões para subsídio aos senhores que têm V8, acabar com isso não significa austeridade é ter boa despesa”, afirma aquele académico.
Veja Também Empresários angolanos divididos sobre proibição de importação de produtos de origem animalCarvalho propõe que se acabe "com os subsídios aos combustíveis e substituir em subsídios aos táxis e na agricultura, que se deixe de gastar com aeroportos parados e coisas assim supérfluas".
Opinião contrária tem José Severino, presidente da Associação Industrial Angolana(AIA), quem discorda das medidas propostas pelo FMI, que acusa de ser demasiadamente “monetarista”.
Veja Também Angola: Discurso da concorrência económica versus prática de monopólios"O FMI preocupa-se muito com o monetarismo, com a moeda, etc., e isso também é importante, mas em contrapartida nós temos que olhar para o crescimento saudável", diz Severino, que lamenta que "estamos nisto há anos nisso".
"Deviam preocupar-se mais em ajudar-nos no crescimento da produção, na diversificação..., e não apenas preocupar-se com aspetos monetários, deviam é ter em atenção ao crescimento da economia real, deviam preocupar-se com a empregabilidade”, conclui.
No comunicado, o FMI afirma que Angola registou um crescimento de 3,8 por cento em 2024, mas a inflação manteve-se elevada, impulsionada pelas pressões cambiais e pelos preços mais elevados dos alimentos e “a moeda desvalorizou-se mais de 10% face ao dólar norte-americano em 2024”.
As expetativas adversas do mercado e um elevado serviço da dívida externa continuam a pesar na taxa de câmbio, de acordo com aquela instituição com sede em Washington, que destaca que “a gestão ativa de caixa e dívida do Governo ajudou a mitigar as pressões de liquidez” e o aumento da taxa de política monetária em 150 bps em 2024 pelo Banco Nacional de Angola “simplificou a gestão da liquidez, resultando num melhor alinhamento da taxa interbancária com a taxa de política”.
Para 2025, o FMI diz esperar que a recuperação continue, mas alerta que os riscos continuam elevados.