O antigo Presidente moçambicano, Armando Guebuza, vai ser ouvido na quinta-feira, 17, como declarante, no julgamento do caso das dívidas ocultas, que decorre desde 23 de Agosto nos arredores de Maputo.
Alguns analistas políticos dizem esperar que o tribunal tenha a coragem para avançar com um processo, caso ele assuma que houve desvios de fundos do projecto para a defesa da costa de Moçambique.
A expectativa é enorme em torno desta audição e a justificação é que as pessoas querem ouvir aquele que era o Presidente da República, quando este escândalo aconteceu.
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"Esperamos que ele esclareça o contexto claro do empréstimo; ele já fez depoimentos na Procuradoria-Geral da República- PGR, e o que disse, fundamentalmente, foi que tudo foi decidido no Comando Operativo, e não espero que ele chegue ao tribunal e mude de posição", afirma o sociólogo e analista político Moisés Mabunda.
Veja Também Dívidas ocultas: Ministro das Finanças diz que Estado foi enganadoEle avança que, na semana passada, houve uma luz do anterior ministro do Interior, que afirmou que "naquele comando não se decidiu nada e que as decisões foram tomadas entre o Serviço de Informação e Segurança do Estado (SISE) e o chefe de Estado, penso que aqui também vai ter de esclarecer esta situação".
Para o jornalista político Fernando Lima, é natural que haja esta expectativa porque existe a convicção de que, sendo Moçambique um Estado com um Governo muito centralizado, qualquer assunto muito importante, é sempre do conhecimento e de decisão do Presidente da República.
Veja Também Dívidas ocultas: “Tirano” para a Ordem dos Advogados, juíz Efigénio Baptista não reúne consensoAquele analista político acrescenta que Armando Guebuza já disse à comissão de inquérito da Assembleia da República, que se tivesse que voltar atrás, ele faria tudo de novo como decidiu antes, mas a questão tem agora um elemento adicional.
Projecto para defesa da costa
Lima sublinhou que "depois daquilo que ouvimos no julgamento de Jean Boustani, em Nova Iorque e já no decorrer deste julgamento, nomeadamente, de pessoas que abusaram os fundos do projecto para a defesa da costa de Moçambique, não se sabe se o antigo chefe de Estado mantém a mesma posição ou assume que houve desvios na implementação deste projecto e mais grave ainda, que a segurança do Estado esteve muito envolvida nesses desvios".
Entende aquele jornalista que poderá haver uma segunda alternativa, "que será aquilo que se costuma dizer, fuga para frente, ou seja, não aconteceu nada de errado e tudo aquilo que estamos a assistir, nomeadamente os desvios de aplicação de fundos são o resultado de uma grande conspiração para denegrir a sua administração e os seus colaboradores mais directos".
Fernando Lima refere ainda que se o antigo estadista assumir que houve desvios, "o tribunal, em última análise, é que vai decidir, e pode, de facto, assumir que ele pode ser constituído arguido, mas, na minha opinião, este assunto é muito politizado, e não obstante puder haver esses indícios, eu tenho sérias dúvidas que o tribunal tenha a coragem de avançar nesse sentido".
Por seu turno, Moisés Mabunda não acredita que o antigo estadista assuma que houve desvios, mas se o fizer, "a PGR tem um trabalho muito grande que é responsabilizar o Governo do dia, e não acredita que isso seja feito".