Dívidas Ocultas: Amigo de Ndambi Guebuza acusa PGR de coação

Bruno Langa, arguido, dívidas ocultas, Maputo, Mozambique

Bruno Tandane Langa diz ter sido ameaçado de prisão e forçado a proferir as declarações que constam do processo, mas reconhece ter recebido 8,5 milhões por "consultoria"

No nono dia do julgamento de 19 arguidos acusados de envolvimento no escândalo das "dívidas ocultas, Bruno Tandane Langa, um dos lobistas indiciado de ter sido a ponte para fazer acelerar a aprovação do projecto de protecção da Zona Económica Exclusiva (ZEE), acusou a Procuradoria Geral da República (PGR) de o ter coagido e intimidado de modo a validar as acusações que o levaram ao banco dos réus.

Tandane, que é amigo pessoal de Ndambi Guebuza, filho do antigo Presidente Armando Guebuza, disse em tribunal nesta quinta-feira, 2, que durante a sua audição na fase da instrução, o procurador Alberto Paulo, que esteve em frente do processo que culminou com a sua detenção, terá feito várias ameaças para que assumisse o envolvimento no esquema.

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"Digo, com palavra de honra, que fui ameaçado de prisão e forçado a proferir as declarações que constam do processo, e, com receio, acabei assinando a acta" revelou.

Em declarações feitas no contexto de perguntas do Ministério Público durante a sua audição, Tendane, indiciado de oito crimes, entre eles associação para delinquir, posse ilegal de armas de fogo, branqueamento de capitais, posse de documentos falsos, corrupção passiva, gelou o tribunal com ataques serrados à PGR e ao Tribunal Judicial da Cidade de Maputo.

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Para além da alegada coação "sofrida" durante a fase da instrução preparatória, Tendane Langa disse que as declarações a si imputadas na acta da audição que determinou a legalização da sua detenção não passam de uma fraude.

"Essa declarações não são minhas. Estive pouco tempo com o dr. Délio Portugal (juiz de instrução) e essas declarações (apresentadas pelo Ministério Público) não são minhas", vincou.

Confrontado com as assinaturas constantes nas folhas de declarações feitas durante os fases antecedentes à sua detenção, mostrou algumas contradições e acabou concluindo tratar-se de "similaridades", deixando antever que não são suas.

Para além das instituições de justiça, Tendane Langa demarcou-se do posicionamento do advogado que o acompanhou nas fases de instrução preparatória, fazendo crer que o mesmo terá agido, em parte, à sua revelia.

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Arguido nega envolvimento

Questionado sobre os crimes de que é acusado, Bruno Tendane Langa disse, de forma categórica, que é inocente.

Segundo consta da acusação, o arguido beneficiou-se de 8,5 milhões de dólares resultantes de subornos pagos pela Privinvest, numa factura de dívida que foi imputada ao Estado.

No entanto, Langa reconheceu ter recebido o valor em causa, mas como pagamento do trabalho de consultoria feita para a Privinvest e negou qualquer envolvimento com o projecto da ZEE, alegando que teve conhecimento dele através da comunicação social.

Confrontado com vária documentação do processo que mostra uma ligação directa com o projecto da ZEE, Tendane começou a entrar em contradições.

De acordo com a acusação, o arguido, o quarto a ser ouvido, dos 19 acusados, terá usado parte do valor que recebeu na compra de imóveis, dentro e fora do país, viaturas e máquinas agrícolas e cerca de 800 cabeças de gado, que custaram o equivalente a um milhão de dólares.