O Presidente de Cuba, Miguel Mário Díaz-Canel Bermúdez, está em Luanda onde realiza uma visita de Estado de dois dias a primeira de uma digressão africana que o levará Africa do Sul para participar, como convidado, na cimeira de chefes de Estado e de Governo do bloco de economias emergentes do Brasil, da Rússia, da Índia, da China e da África do Sul (BRICS).
Na capital angolana, o líder cubano foi recebido nesta segunda-feira, 21, pelo seu homólogo angolano João Lourenço e testemunhou a assinatura de três acordos de parceria em vários domínios de interesse comum. Díaz-Canel discursou na Assembleia Nacional durante uma sessão especial.
A UNITA considera que apesar das diferenças ideológicas e do modo como o líder cubano gere as instituições do seu país, a bancada do principal partido da oposição angolana não podia faltar ao encontro “como um gesto diplomático e símbolo da nossa hospitalidade ancorada na nossa tradição. Quem nos visita temos que recebê-lo tal como estamos e somos na nossa vivência”, defendeu o porta-voz do partido, Marcial Dachala.
Entretanto, organizações cívicas e políticas angolanas consideram “incómoda” a presença do estadista cubano na casa das leis angolana por alegadamente liderar um país que viola os direitos humanos.
Para o líder da Friends Of Angola (FoA), Florindo Chivucute a vista de Díaz-Canel devia ficar-se por um encontro com o Presidente angolano “ e não dar espaço ao Parlamento, que é um lugar eleito pelo povo e que tem vários partidos políticos, a uma pessoa que não foi eleita pelo seu povo”.
João Malavindele, da Associação OMUNGA, diz que o Presidente cubano não tem lições de democracia a dar aos deputados angolanos e que a sua mensagem não traduz o desejo do povo do seu país.
“É apenas uma visita de cortesia que não traz nada nem para os cubanos nem para os angolanos”, afirmou.
Muata Sebastião, secretário-geral do Bloco Democrático entende que o Presidente cubano não devia ser bem-vindo no Parlamento angolano: “Ele não vem aqui para dar lições de democracia mas da continuidade da ditadura tal como acontece em Angola. É um dos países com os quais Angola não devia ter relações”.
É a terceira visita a Angola de um estadista cubano depois de Fidel Castro em 1977 e de Raúl Castro, em 2009. Os dois estadistas discursaram durante as conversações oficiais tendo ressaltado os níveis de relações bilaterais de mais de 40 anos.
O Governo do MPLA, então liderado por Agostinho Neto, recebeu apoio militar de Cuba a partir de 1975 , na sua luta contra a invasão externa o que permitiu a proclamação da independência de Angola e a contenção da rebelião armada interna.
Estima-se que cerca de 450 mil militares cubanos tenham passado por Angola até a assinatura dos acordos de paz que determinaram a saída das tropas cubanas e sul-africanas de Angola, em 1991. Outros milhares morreram em campos de batalha tanto contra as tropas sul-africanas como contra a ex-movimento rebelde angolano, a UNITA.
Milhares de colaboradores civis ainda prestam serviços profissionais em Angola principalmente nos setores da saúde, ensino superior, defesa, energia, indústria, ordem interna e recursos hidráulicos.
Centenas de estudantes angolanos continua a ser formados naquele país com realce para as áreas de defesa e segurança, saúde, educação, ciência e tecnologia, fruto de um Acordo Geral de Cooperação que vigora desde 1976, no quadro das suas relações diplomáticas estabelecidas no ano anterior.
Depois do fim da guerra, mais de quatro mil cubanos continuaram a prestar colaboração no país em diversos sectores, especialmente na saúde e na educação.
Recentemente, os dois países rubricaram um acordo para garantir a difusão, com maior regularidade, de investigação sobre a vida e obra dos seus líderes políticos.
O documento, assinado em Março de 2023, em Luanda, entre o Memorial António Agostinho Neto e o Centro Cultural Fidel Castro de Cuba, visa maior colaboração com publicações de obras, palestras e conferências, para divulgar a revolução histórica de Agostinho Neto e Fidel Castro à nova geração.
A formação de professores angolanos em Cuba remonta aos anos 80, com a ida dos primeiros 845 profissionais em diversos níveis e instituições de ensino.
Dados de 2020 apontam que, dos dois mil e 556 bolseiros angolanos em formação, em Cuba, 77 fazem pedagogia a nível superior, em diversos estabelecimentos especializados, enquanto 700 seguem medicina, incluindo cardiologia.
Até 2017, conforme informações oficiais, Cuba recebia em média 40 estudantes angolanos, para formação nas áreas de ciências exactas e a nível pedagógico, nos centros especializados em Cienfuegos e Santiago de Cuba.
Ao longo de várias décadas, Cuba tem também recebido várias centenas de angolanos, quer a título individual, quer por intermédio de bolsas de estudo governamentais, à busca de conhecimento científico neste país da América Central.
Dados do Governo angolano indicam que, em 2018, regressaram ao país 133 quadros formados em Cuba, nas especialidades de medicina, engenharia informática, electrónica, biologia, pedagogia, telecomunicação electrónica, direito e outras.
À luz do Acordo Geral de Cooperação, estima-se que mais de 40 mil angolanos foram formados em Cuba, nas especialidades da agricultura, saúde, construção civil, comunicação social, educação, militar, defesa e segurança, transportes e ciências políticas, música e teatro.
O Sistema Nacional de Saúde, que comporta duas mil e 644 unidades sanitárias, é assegurado por 69 mil e 816 trabalhadores, dos quais seis mil e 400 médicos, 35.458 enfermeiros e oito mil e 780 técnicos de diagnóstico, entre outros.