Donald Trump contrata antigo lobista da UNITA

Paul J. Manafort, à esquerda, com o antigo ex-pré-candidato republicano Ben Carson

Paul Manafort é o chefe da campanha de Trump.

O candidato republicano às eleições presidenciais nos Estados Unidos Donald Trump contratou o lobista Paul Manafort, denominado pelo jornal inglês The Guardian de "mercenário", para o ajudar na sua campanha, principalmente junto de congressistas e senadores republicanos.

Manafort é conhecido por tentar aproximar ditadores, violadores de direitos humanos e dirigentes acusados de estrupos e outras atrocidades ao Governo dos Estados Unidos.

Entre os seus clientes mais conhecidos estão os presidentes da Guiné Equatorial, Thedoro Obiang, das Filipinas, Ferdinand Marcos, da Ucrânia, Viktor Yanukovych, e do antigo Zaire, hoje República Democrática do Congo, Mobutu Sese Seko.

De acordo com o artigo do jornal The Guardian, assinado por David Smith, publicado nesta terça-feira, 31, Manafort também foi o intermediário entre os Estados Unidos e a UNITA durante as administrações republicanas, entre 1988 e 1990.

Esta revelação foi feita por Riva Levinson, autora do livro de memórias “Chossing the Hero: May Improbable Journay and the Rise of Africa´s First Woman Presidente”, em que narra o seu trabalho de lobista em África, particularmente na campanha que levou ao poder a primeira Presidente num país africano, Ellen Johnson Sirleaf, na Libéria.

Em 1992, Levinson esteve também em Angola a apoiar a campanha de Jonas Savimbi nas eleições gerais.

O partido dirigido por Jonas Savimbi, com o apoio do então regime do apartheid da África do Sul, e com a assistência de Manafort, recebeu ajuda da administração de Ronald Reagan.

Savimbi perdeu as eleições e decidiu regressar à guerra.

UNITA fez bom negócio

Jardo Muekália, antigo guerrilheiro da UNITA radicado aqui em Washington, é citado pelo The Guardian como tendo louvado o papel de Paul Manafort na campanha.

Muekalia diz ter-se reunido com o lobista em 1986 a quem foram oferecidos 600 mil dólares para conseguir a aproximação ao Governo americano de então.

“Ele foi contratado porque tinha acesso à administração Reagan e de facto contactou vários dos mais altos funcionários e o próprio Presidente”, revelou Muekália.

O antigo guerrilheiro da UNITA revelou ter ficado “impressionado com o nível de análise e a estratégia para chegar à estrutura maxima do poder em Washington".

“Nós pagamos 600 mil dólares, mas conseguimos mais de 40 milhões de dólares em quatro anos, por isso foi um bom retorno do investimento feito”, considerou Jardo Muekália, destacando a importância de ter a diplomacia americana na mesa de negociações.

Lobistas ganham

Elias Isaac, director da Iniciativa da Open Society para a África Austral em Angola, também é referido no artigo como tendo dito que o país foi vítima da Guerra Fria e que os lobistas fizeram dinheiro com isso.

“Empresas de relações públicas estão cá para explorar situações e lucrar com isso. Não são organizações de caridade, ajudam-se a si mesmas, tornando-se milionárias. Angola teve algum benefício? Duvido”, questionou Isaac em jeito de resposta.

Aquele activista disse estar seguro de que “os Estados Unidos beneficiaram porque Namíbia e África do Sul tornaram-se independentes, mas Angola continua sendo um dos regimes mais brutais do mundo, que não respeita os direitos humanos e não acredita na democracia eficaz".

Elias Isaac afirmou ainda ao jornal que gostaria de convidar Paul Manafort e Riva Levinson a irem a Angola “apresentar os seus argumentos para que possamos entender com que bases eles afirmam essas falácias”.

Refira-se que Paul Manafort foi director da empresa Black, Manafort, Stone e Kelly, que tinha laços estreitos com as administrações Ronald Reagan e George HW Bush (pai) e com líderes republicanos no Congresso.

Agora, Manafort vai planear a campanha de Donald Trump, com particular incidência junto dos congressistas e senadores republicanos que não têm recebido o milionário de braços abertos.