O escritor e professor universitário angolano Domingos da Cruz, que integra o grupo dos 17 activistas condenados pelos crimes de rebelião, tentativa de golpe de Estado e associação de malfeitores, considera que a sua libertação não dependeu do Tribunal Supremo, mas sim da vontade do Presidente José Eduardo dos Santos.
Cruz, que é autor do livro “Ferramentas para Destruir o Ditador e Evitar Nova Ditadura: Filosofia Política da Libertação para Angola”, usado como parte da acusação do Ministério Público, sustenta a sua afirmação com o facto de José Eduardo dos Santos “tentar se reinventar para superar a crise em que o país se encontra”.
"Trata-se de um animal político que se encontra num contexto de incerteza, tendo em conta a situação em que o país está, e que pela sua dimensão política vai se rearticulando", explica Cruz, adiantando que, por isso, "num contexto desconfortável em função da situação internacional viu essa possibilidade para descomprimir a pressão".
A justiça
As recentes decisões da justiça angolana de libertar activistas, como os chamados revús, e anular processos, como os de José Marcos Mavungo e Arão Tempo, são vistos por aquele professor universitário apenas como "uma rearticulação do poder que quer dar a ideia de que as instituições funcionem, diminuindo a arrogância, e uma forma de preservar os interesses instalados, nomeadamente o seu património retirado do Estado".
Em entrevista à VOA, Domingos da Cruz diz que se acreditasse “na boa vontade ou no coração grande do Presidente não estaria a ser coerente” com o que tem dito.
Questionado se vai continuar a fazer activismo, Cruz convida os angolanos a acompanharem a sua trajectória e discurso para verem se mantém igual ou se está intimidado ou não, mas mostra-se pouco animado com o activismo angolano em ano eleitoral.
Eleições e activismo
"Embora para mim as eleições não dizem nada, não creio que haverá mudanças porque tenho a consciência de que nas tiranias a eleição não serve nada para a alternância", explica o activista que também considera que o poder minou toda uma sociedade "anestesiada" durante 40 anos.
“Ferramentas para Destruir o Ditador e Evitar Nova Ditadura: Filosofia Política da Libertação para Angola”, é o título da mais recente obra de Domingos da Cruz, cuja leitura e estudo foram considerados peças da acusação por parte do Ministério Público.
O livro dado a conhecer na internet e lido durante o julgamento por decisão do juiz vai ser publicado "depois do nosso caso ter transitado em julgado", garante o escritor.
O activista aborda também a situação nas cadeias angolanas e a repercussão internacional do caso, "que deveria ser aproveitada pelos angolanos para promover mudanças".
Acompanhe a entrevista na íntegra:
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