Um jovem de 21 anos morreu depois de ter sido atingido por uma botija de gás lacrimogéneo durante os protestos desta semana no Quénia, informaram no sábado, 22, uma organização de direitos humanos e um familiar da vítima.
É a segunda vítima mortal resultante das manifestações lideradas por jovens. Várias organizações, incluindo a Amnistia Internacional do Quénia, afirmaram que pelo menos 200 pessoas ficaram feridas em Nairobi após os protestos de quinta-feira, que levaram milhares de pessoas às ruas de todo o país.
Liderados em grande parte por quenianos da Geração Z, que transmitiram em direto as manifestações contra o aumento dos impostos, os protestos foram galvanizados por uma raiva generalizada contra as políticas económicas do Presidente William Ruto.
As manifestações de quinta-feira em Nairobi foram, na sua maioria, pacíficas, mas os agentes da autoridade dispararam gás lacrimogéneo e canhões de água ao longo do dia para dispersar os manifestantes perto do Parlamento.
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De acordo com um funcionário da Comissão dos Direitos Humanos do Quénia, Evans Kiratu, de 21 anos, foi "atingido por uma bomba de gás lacrimogéneo" durante as manifestações.
"Foi levado para o hospital por volta das 18 horas (1500 GMT) de quinta-feira e morreu lá", disse à AFP Ernest Cornel, porta-voz da Comissão dos Direitos Humanos do Quénia. "É trágico que um jovem possa perder a vida simplesmente por se insurgir contra o elevado custo de vida".
A tia da vítima disse à emissora nacional Citizen TV que o seu sobrinho tinha morrido no hospital antes de ela o poder ver. "Estamos a exigir justiça para o meu sobrinho", disse.
As manifestações começaram em Nairobi, na terça-feira, antes de se espalharem por todo o país, com os manifestantes a apelarem a uma greve nacional a 25 de junho.
A morte de Kiratu vem na sequência de uma outra morte registada na sexta-feira, quando um organismo de vigilância da polícia disse que estava a investigar alegações de que um homem de 29 anos tinha sido baleado por agentes da polícia em Nairobi, após as manifestações.
A Autoridade Independente de Supervisão do Policiamento (IPOA) afirmou ter "documentado a morte, alegadamente em resultado de um tiroteio policial" na quinta-feira.
De acordo com um relatório da polícia visto pela AFP, um homem de 29 anos foi levado para o hospital em Nairobi, quinta-feira, "inconsciente com um ferimento na coxa" antes de "sucumbir" aos ferimentos, sem dar mais pormenores.
Governo sob pressão
Na sequência de manifestações de menor escala em Nairobi no início da semana, o governo, sem dinheiro, concordou em rever vários aumentos de impostos previstos numa nova lei.
Mas a administração de Ruto ainda tenciona aumentar alguns impostos, defendendo que as taxas propostas são necessárias para encher os cofres do país e reduzir a dependência de empréstimos externos.
A subida dos impostos vai aumentar a pressão sobre os quenianos, muitos dos quais já lutam para sobreviver à medida que o custo de vida aumenta e os empregos bem pagos continuam fora do alcance dos jovens.
Organizados em grande parte através das redes sociais, os protestos apanharam o governo de surpresa, com os manifestantes a apelarem agora a um encerramento a nível nacional.
"Terça-feira, 25 de junho: #OccupyParliament e encerramento total do Quénia. Uma greve nacional", lê-se num cartaz amplamente partilhado online, acrescentando que "a Geração Z está a conceder um dia de folga a todos os quenianos que trabalham arduamente. Pais, mantenham os vossos filhos em casa em solidariedade".
Depois de o Governo ter concordado em eliminar as taxas sobre a compra de pão, a propriedade de automóveis e os serviços financeiros e móveis, o Tesouro alertou para um défice de 200 mil milhões de xelins (1,5 mil milhões de dólares).
Os impostos propostos deveriam permitir arrecadar 346,7 mil milhões de xelins (2,7 mil milhões de dólares), o equivalente a 1,9% do PIB, e reduzir o défice orçamental de 5,7% para 3,3% do PIB.
O governo pretende agora aumentar os preços dos combustíveis e os impostos sobre as exportações para preencher o vazio deixado pelas alterações, uma medida que, segundo os críticos, tornará a vida mais cara num país que se debate com uma inflação elevada.
O Quénia é uma das economias mais dinâmicas da África Oriental, mas um terço dos seus 51,5 milhões de habitantes vive na pobreza.