Um estudo do Sindicato da Saúde, Administração Pública e Serviços de Benguela, elaborado mediante um inquérito a 235 filiados, mostra que grande parte dos salários acaba em dívidas e despesas na alimentação e transporte.
Os resultados, apresentados na manhã desta quinta-feira, 28, dizem que a inflação roubou entre 50 e 60 por cento dos seus salários, razão pela qual muitos trabalhadores foram obrigados a abdicar da formação académica.
Em reacção, a Unita aproveita a ocasião para vincar a sua posição quanto à necessidade de investimentos no sector social.
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Realizado entre Janeiro e Março, período em que a inflação disparou em 9 por cento, superando as previsões do FMI, o estudo refere que muitos filiados chegam a contrair dívidas acima dos seus ordenados.
Os inquiridos são sobretudo funcionários das Administrações Municipais e de hospitais, com salários entre 18 mil e 80 mil kwanzas, correspondentes a 40 e 180 dólares norte-americanos, respectivamente.
Com o preço dos principais produtos a triplicar, desafiando a fraca produção interna e a falta de divisas, ninguém consegue conservar o salário real.
Na apresentação dos resultados, o sociólogo Narciso Sakata indicou que a situação é tão crítica para uma realidade sem focos de contestação.
“É curioso que ninguém tenha respondido que não contrai dívidas. Cinquenta e nove por cento dos filiados contraem dívidas entre 10 mil e 20 mil Kwanzas, em muitos casos 80 por cento do que auferem’’, sustenta Sakata, realçando que os mesmos gastam dois salários em um mês.
O especialista acrescenta que o capítulo da alimentação ajuda a perceber o drama na Administração Pública, Saúde e Serviços
“As pessoas gastam muito dinheiro, quase o salário todo, só na alimentação. Falamos em 60 a 70 por cento dos seus ordenados, sendo que uma outra parte, também considerável, fica nos transportes’’, frisa aquele sociólgo.
Um dos convidados, o deputado Alberto Ngalanela, secretário provincial da Unita, aproveitou o estudo para lembrar a necessidade de eleições autárquicas e de investimentos na área social.
Ngalanela disse que pagava o necessário para ver os custos com a saúde inseridos neste relatório.
“O estudo devia também falar dos custos com a assistência médica e medicamentosa, uma vez que os preços dos medicamentos estão em alta. Tudo isto afecta mais ainda a qualidade de vida das populações”, concluiu Ngalanela.
Apesar de convidado, o MPLA não se fez presente da cerimónia de apresentação do estudo na União dos Sindicatos.
O inquérito decorreu em sete dos 10 municípios da província, que congregam os mais de 15 mil filiados.
Muitos funcionários sugeriram reajustes salariais entre 50 a 80 por cento.
Este estudo servirá de base para um caderno reivindicado que terá como destinatário o Governo provincial.