Discurso do Estado da União: Biden diz que Putin "calculou mal"

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Bidean ladeado pela vice presidente Kamala Harris ( esquerda) e presidente da Camara dos Representantes Nancy Pelosi

No discurso sobre o Estado da União, o Presidente americano disse que Putin “calculou mal” a sua invasão à Ucrânia e deve pagar “um preço” pelo ataque “premeditado” a esse país.

O Presidente dos Estados Unidos Joe Biden afirmou que o Presidente da Rússia Vladimir Putin calculou mal a sua invasão à Ucrânia, acrescentando que “quando ditadores não pagam um preço pela sua agressão acabam por causar mais caos”.

Quando não se impõe um custo aos ditadores pelas suas agressões “eles continuam a movimentar-se e os custos e ameaças à América e ao mundo continuam a aumentar”, disse.

“Ele pensou que poderia entrar na Ucrânia e o mundo iria ceder. Em vez disso deparou com um muro de força que nunca tinha imaginado”, disse o Presidente americano.

“Ele deparou com o povo ucraniano”, acrescentou afirmando ainda que o Presidente Putin “está agora mais isolado do que nunca”.

Perante os aplausos dos congressistas, Biden disse que o Departamento de Justiça está formar uma força tarefa para combater “os crimes dos oligarcas russos”.

“Vamos atrás dos vossos lucros ilegais”, disse.

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Biden anunciou a proibição de aviões russos entrarem no espaço aéreo dos Estados Unidos, juntando-se assim a medidas idênticas já aprovadas pelos países da União Europeia e Canadá.

Falando no discurso anual sobre o Estado da União, o Presidente americano acusou Putin de ter lançado um ataque “não provocado e premeditado” e saudou a resposta colectiva dos aliados da NATO que disse ter sido criada para “garantir a paz e estabilidade na Europa após a Segunda Guerra Mundial”.

A NATO, disse Biden, “ é importante” e “a diplomacia americana é importante”

“Ele (Putin) rejeitou os esforços da diplomacia. Ele pensava que o ocidente e a NATO não responderiam e pensou que nos dividiria aqui em casa”, disse Biden.

“Putin errou. Estávamos prontos”, acrescentou Biden.

O Presidente americano disse não ser intenção dos Estados Unidos combaterem na Ucrânia mas defenderá cada “centímetro” do território dos países da NATO.

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Com os seus níveis de aprovação mais baixos desde o início da sua presidência, alto nível de inflação e numa altura de grande tensão no estrangeiro, o Presidente americano fez um discurso em que sublinhou os progressos feitos em conter a pandemia da Covid-19 e mesmo na economia, apesar de muitos projectos do seu programa económico terem entrado no impasse no Congresso devido à falta de apoio inclusive entre alguns Democratas.

Ovação para embaixadora da Ucrânia

Mas foi a guerra da Ucrânia o assunto em que todos aguardavam pelas palavras do Presidente, cujo discurso foi rescrito durante o dia de terça-feira tendo em conta os últimos desenvolvimentos na guerra nesse país.

Biden manteve durante o dia uma conversa de 30 minutos com o Presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy, cujos pormenores não foram revelados.

A embaixadora Oksana Markarova, nos lugares reservados a convidados especiais, recebeu uma ovação de pé por parte dos congressistas e outros presentes na sala da Câmara dos Representantes e vários membros do congresso estavam vestidos com as cores da bandeira da Ucrânia – amarelo e azul .

Embaixadora da Ucrania Oksana Markarova, (esquerda) ao lado da primeira Dama Jill Biden agradece os aplausos

Biden apelou aos legisladores para aprovarem o envio de mais armas e munições para a Ucrânia, mas ao mesmo tempo disse que os americanos devem preparar-se para dificuldades resultantes do conflito.

Presidente diz que economia teve grandes avanços mas reconhece dificuldades

Como seria de esperar o Presidente frisou o rápido crescimento da economia americana, o nível mais rápido em quase quarenta anos, mencionando a queda do desemprego, a melhoria de salários e o facto da vida diária do país ter voltado à quase total normalidade quase dois anos depois da pandemia da Covid-19 ter causado a pior crise económica desde a Grande Depressão.

Estando a inflação ao nível mais alto desde há quatro décadas e apontada como uma das causas da queda de popularidade do Presidente, este afirmou que o melhor meio para se combater a subida de preços é aumentar a produção interna e reconstruir as estradas e pontes do país.

Só o ano passado a economia criou 6,5 milhões de novos empregos e a economia cresceu a um ritmo anual de 5,7% por ano, disse o Presidente para quem a economia “cresceu de baixo para cima e não de cima para baixo”.

Biden abordou a inflação anual nos Estados Unidos, que atingiu os 7,5% em Janeiro o nível mais alto desde Fevereiro de 1982.

“Um meio de se combater a inflação é baixar os salários e tornar os americanos mais pobres. Eu tenho um melhor plano para combater a inflação”, disse Biden.

“Os economistas chamam-lhe ‘aumentar a capacidade produtiva da nossa economia’. Eu chamo-lhe construir uma América melhor”, acrescentou o Presidente para quem as companhias americanas “devem baixar os custos não os salários”.

“Fabriquem mais carros e semicondutores na América. Mais infraestruturas e inovação na América. Mais bens, mais baratos e a movimentarem-se mais rapidamente na América. Mais empregos com que se possa ter uma boa vida na América”, afirmou Biden.

“Em vez de dependermos de cadeias de fornecimento estrangeiras – vamos fazê-lo na América”, acrescentou.

O Presidente propôs também medidas do governo federal para ajudar as famílias com os custos dos cuidados infantis.

Crime nas cidades

O Presidente apelou aos legisladores para aprovarem leis de controlo do posse de armas, um tema sempre muito controverso nos Estados Unidos.

Biden propôs um aumento de verificação de registo criminal de compradores de armas e proibição a armas de guerra.

No passado recente e na sequência da morte do africano-americano George Floyd às mãos da polícia uma ala do partido Democrata tinha lançado uma campanha para se retirar o financiamento de departamentos da polícia, mas Biden disse que “não devemos abandonar as nossas ruas ou escolher entre a segurança e a igualdade de justiça”.

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“Vamos trabalhar em conjunto para proteger as nossas comunidades, restaurar a confiança e responsabilizar os agentes da lei”, disse.

“Todos nós devemos concordar que a resposta não é retirar fundos à polícia”, disse o Presidente.

“A resposta é financiar a polícia com recursos e treino que precisam para proteger as nossas comunidades”, acrescentou.

Covid 19 e agenda de unidade

O Presidente disse que o país está agora numa nova era da pandemia da Covid-19 com níveis baixos “não vistos desde Julho” mas Biden disse que as autoridades vão continuar a combater o vírus “como fazemos com outras doenças”, afirmando que “nos devemos preparar para novas variantes”.

O Presidente americano anunciou o acesso a kits de testagem grátis e o recurso a comprimidos para tratamento da Covid-19: "Também estamos prontos com tratamentos anti-virais. Se apanhar Covid-19, comprimido da Pfizer reduz a possibilidade de acabar no hospital em 90%".

"Disponibilizamos centenas de milhões de testes gratuitamente. Mesmo que já tenha pedido testes gratuitos hoje à noite, estou a anunciar que podem solicitar mais em covidtests.gov a partir da próxima semana", informou o Presidente.

Biden propôs também novas medidas para se combater a fraude nos programas de alívio económico estabelecidos durante a pandemia.

O Departamento de Justiça vai nomear um procurador para se centrar em casos importantes de fraude nesses programas e pediu penas mais severas para as pessoas envolvidas nesse tipo de fraude.

O Presidente delineou as suas aspirações para o próximo ano de governação numa “agenda de unidade” com questões que podem ter apoio bipartido no Congresso.

Assim ele propôs um aumento de 2.000 dólares na ajuda financeira a estudantes universitários de fracos recursos, um aumento para 15 dólares à hora do salário mínimo nacional e a criação de um programa federal de férias pagas.

Biden propôs também créditos fiscais para se incentivar o uso de energias limpas, algo que fez parte da agenda de gastos governamentais que não foi aprovada no Congresso.

Ao contrário do que aconteceu o ano passado quando o Presidente falou ao Congresso, este ano todos os congressistas foram convidados a estarem presentes bem como familiares e convidados e ainda os membros do Supremo Tribunal.

O ano passado foi permitida apenas a presença de cerca de 200 pessoas num discurso que não foi oficialmente descrito como sendo o tradicional discurso do Estado da União.

Entre os vários apelos que Biden deixou ao Congresso, o Presidente americano pediu que sejam aprovadas leis de imigração que conduzam à cidadania, no caso dos Dreamers, bem como para aqueles com estatuto temporário, trabalhadores de agrícolas e trabalhadores essenciais.

"Não só é a coisa certa a fazer – é a coisa economicamente inteligente a se fazer. É por isso que a reforma da imigração é apoiada por todos, de sindicatos a líderes religiosos e à Câmara de Comércio dos EUA", argumentou.

A resposta Republicana

A tradicional resposta da oposição, neste caso do Partido Republicano, foi feita pela governadora Kim Reynolds do estado do Iowa, tida como uma das poucas figuras de destaque dentro do partido Republicano capaz de equilibrar o populismo do antigo Presidente Donald Trump com a imagem mais equilibrada que o partido quer apresentar para tentar recuperar o controlo do Congresso.

Reynolds afirmou que o presidente Biden “fez o país atrasar-se no tempo” para os anos do final da década de 1970 e início dos anos 80.

Esses anos, disse Reynolds foram os anos “quando a inflação descontrolada abatia as famílias, uma onda de crime violento assolava as nossas cidades e o exército soviético estava a tentar redesenhar o mapa do mundo”.

“Eu vi pessoas a terem que escolher que produtos essenciais levar para casa e que produtos deixar na caixa registadora e agora as decisões do Presidente Biden têm uma geração totalmente nova a sentir a mesma dor”, disse a governadora Republicanos.

“A administração Biden acredita que a inflação é um problema da classe-alta. Posso afirmar que é o problema de todos”, defendeu.

Reynolds criticou a “desastrosa” retirada do Afeganistão que para além de “ter custado as vidas de americanos atraiçoou os nossos aliados e encorajou os nossos inimigos”.

A representante do Partido Republicano criticou a actuação da administração Biden face aos desafios constituídos pela Coreia do Norte e China mas denunciou a invasão da Ucrânia como “um ataque à democracia, liberdade e primado da lei”.

“Agora todos os americanos têm que estar unidos em solidariedade com o povo corajoso da Ucrânia quando este defende corajosamente o seu país contra a tirania de Putin”, disse Reynolds.