O vice-presidente do PAIGC e presidente da Assembleia Nacional Popular, Cipriano Cassamá, e o antigo primeiro-ministro e membro do Bureau Político, Artur Silva, foram convocados pelo Conselho Nacional de Jurisdição e Fiscalização do partido para depor em processos, no momento em que aumentam as críticas à liderança de Domingos Simões Pereira, ausente do país após a segunda volta das eleições presidencias em dezembro de 2019.
Nos círculos políticos guineenses fala-se em purgas no partido dos libertadores, mas até agora a direcção do PAIGC ou o Conselho Nacional de Jurisdição e Fiscalização não se pronunciaram sobre os posicionamentos de Cassamá e Silva.
Cipriano Cassamá diz que a sua convocação decorre de “denúncia feita por militantes e estruturas do partido”.
“Não pode deixar de causar estranheza e preocupação que após ameaças públicas de sanções, num momento extremamente delicado do país e da vida interna do partido, em que militantes, responsáveis, dirigentes e estruturas sociopolíticas se multiplicam em esforços para revitalizar e relançar as atividades políticas, alguns camaradas persistam na lógica da intriga, conflito e crispação interna”, diz o comunicado do gabinete de Cipriano Cassamá com data de 3 de dezembro, mas divulgado nesta sexta-feira, 4.
Cassamá, que disse ter sido convocado para depor ontem, sem qualquer “nota de culpa”, diz suspeitar que o “alegado processo disciplinar tem por finalidade suspender e sancionar o vice-presidente”.
Desta forma, ele ficaria impedido de dirigir reuniões e orgãos do partido, nomeadamente o Bureau Político e o Comité Central.
O também presidente do Parlamento termina a nota pedindo aos dirigentes e militantes a se manterem serenos e “focados na coesão interna porque os superiores interesses do partido irão, como sempre, acabar por prevalecer sobre as agendas pessoais”.
Artur Silva também
Também com data de ontem, 3 de dezembro, o antigo primeiro-ministro Artur Silva revela ter sido ouvido pelo Conselho Nacional de Jurisdição e Fiscalização no dia 1.
“O instrutor do processo comunicou-me que me fora levantado um processo disciplinar pelo facto de ter sido nomeado primeiro-ministro e também por ter aceitado o cargo de secretário-seral da Agência de Gestão e Cooperação entre o Senegal e a Guiné-Bissau (AGC) em Janeiro e Maio de 2018, respectivamente”, escreve Silva.
Na interpretação do antigo Chefe de Governo, “tudo leva a crer, que ao posicionar-me como uma das vozes inconformadas com a não convocação dos órgãos estatutários do PAIGC devido ao actual estado de funcionamento das diferentes estruturas do PAIGC, pode estar na origem desta súbita e inexplicável audição, que tem por alegado fundamento, acontecimentos ocorridos há quase 3 anos, com a intenção de condicionar a minha liberdade de opinião e participação activa da vida do partido”.
Artur Silva diz estranhar que “esta notificação surja logo após um grupo de dirigentes terem subscrito uma petição com o objectivo de se convocarem as reuniões dos órgãos estatutários do PAIGC, com objectivo de simplesmente se analisar a vida actual e futura do partido após a decisão final ditada pelo Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça que pôs fim ao contencioso das eleições presidenciais”.
Membro do Bureau Político e do Comité Central do PAIGC, Silva sublinha que “as ameaças proferidas através das redes sociais já estão em marcha, na medida em que vários dirigentes estão a ser notificados pelo Conselho Nacional de Jurisdição e Fiscalização para serem ouvidos”.
Tais ameaças, segundo observadores guineenses, podem apontar na direcção do presidente do partido Domingos Simões Pereira que, há menos de dois meses, disse “estar a receber mensagens para “possíveis actos de traição por parte de dirigentes” do PAIGC.
A VOA tentou entrar em contacto com o presidente do PAIGC, Domingos Simões Pereira, mas sem sucesso.