"Uma Menina de Cristal e Outras Crónicas" é a mais recente obra da veterana e conceituada escritora cabo-verdiana Dina Salústio.
O lançamento do livro aconteceu na cidade da Praia, na sexta-feira, 23, e deu ao público uma série de contos publicados pela escritora no jornal Expresso das Ilhas, entre Outubro de 2019 e Fevereiro de 2022.
"Não foram contos da pandemia porque não gosto de contar histórias tristes", diz Dina Salústio ao programa "Artes", da Voz da América.
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A menina de cristal é uma história real, "de uma menina que cai muito, que tem ossos frágeis, por isso ela dizia que era uma menina de cristal, uma história bonita", conta Dina Salústio que, na obra, não para muito nas dores da pandemia, "porque não quis escrever sobre as mortes... aquilo que era muito penoso para nós".
"Escrevi pinceladas, mas nunca no negativo, sempre com uma esperança, como dizia a menina de cristal, `eu estou doente mas outros estão bem´", afirma.
"Eu não gosto de crónicas tristes", reconhece a autora do celebrado conto "Mornas eram as Noites", de 1994, que de forma poética e impiedosa descreveu a sociedade cabo-verdiana e a actualidade das suas maleitas sociais, com especial incidência nos problemas da marginalidade social, da miséria e da pobreza.
Os contos agora dados à estampa continuam a falar da esperança, do "nosso dia a dia", diz Dina Salústio, que na conversa fala da carreira e também dos seus primeiros passos ao descobrir as letras.
O escritor, crítico literário e antropólogo Manuel Brito-Semedo, numa leitura à obra a pedido da Voz da América, assegura que a "a escrita de Dina Salústio é sempre uma escrita com um jeito jetio especial de olhar, reflectir e contar... é a capacidade de captar a essência do quotidiano e no-la apresentar de forma despretenciosa, embora consistente".
Para aquele crítico, "a imagem que me ocorre é a de Dina Salústio como se num tear estivesse, tecendo com preciosismo os fios de palavras que deram forma e trouxeram à luz para nosso deleite a uma menina de cristal".
A obra tem a chancela da Rosa de Porcelana Editora.
A carreira
Dina Salústio, de seu nome próprio Bernardina Oliveira, nasceu em Santo Antão, em 1941.
Ao longo da sua longa carreira recebeu vários prémios, como o Prémio de literatura infanto-juvenil de Cabo Verde (1994), Prémio em literatura infanto-juvenil dos Países Africanos de Língua Portuguesa (2000), Prémio Rosalía de Castro para a Literatura em Língua Portuguesa – PEN Galiza, Espanha (2016), PEN Award da Inglaterra atribuído ao projecto de tradução do seu romance “A Louca de Serrano” (2018), Prémio RDP África Literatura para a Lusofonia (2021, Prémio Literário Guerra Junqueiro Lusofonia 2022 Cabo Verde e Diploma de Mérito Cultural atribuído pela Universidade de Santiago (2023).
Antiga professora, assistente social, autora de crónicas na rádio e com até uma passagem pela diplomacia, Dina Salústio publicou também, "Filhos de Deus", "Veromar", "Filhas do vento", "A louca de serrano", "A estrelinha tlim-tlim" e "Que os olhos não vêem", como co-autora.
Em preparação, Dina Salústio tem um romance, mas instada a levantar uma folha da próxima obra, riu e disse "não, Álvaro, por agora não".