Quem anda nas ruas do centro de São Paulo, a maior cidade do Brasil, nota a diferença pós-pandemia.
O número de moradores em situação de rua disparou: São mais de 24 mil pessoas vivendo nesta condição, número 60 por cento superior ao que a maior cidade do país tinha em 2015, seis anos atrás.
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A Covid-19 causou desemprego, fome e fez muitas famílias não terem alternativa.
Perderam casas e precisaram viver nas ruas Brasil afora.
Num país tão desigual, na rua não seria diferente.
Sete em cada 10 pessoas são negras, vítimas da falta de oportunidades, de educação e da exclusão.
Juliana da Silva é a representação disso.
Mãe solteira e negra.
Perdeu o emprego no último ano.
O dinheiro para pagar o aluguer acabou, bem como para comida.
Juliana já sente a discriminação por ser moradora em situação de rua, mas é por causa da cor da pele que ela sente a dor do racismo.
O racismo no Brasil vai das ruas, para as lojas e chega até as grandes empresas.
É difícil encontrar um negro que não se recorde de um episódio discriminatório.
Um levantamento do Instituto Locomotiva mostra que quase 70 por cento dos brasileiros negros já foram discriminados em ambientes como lojas, restaurantes e supermercados.
Além disso, 52 por cento sofreram racismo no ambiente de trabalho.
Nelson Souza hoje trabalha fazendo biscaites, não tem mais emprego fixo.
O último foi como motorista de aplicativo e ele não se esquece dos frequentes episódios de racismo, que o fizeram desistir da profissão.
Na educação, especialmente no Ensino Superior, tivemos evolução na última década.
Com a política de cotas, metade dos alunos que estão em universidades públicas é negra ou parda.
Um salto se comparado a 2005, quando representavam apenas 5,5% dos universitários.
Mas quando o diploma chega, na hora de procurar emprego, a situação é bem diferente.
São minorias não apenas nos escritórios e nas posições de liderança.
E isso impacta na renda.
Brancos ganham, em média, 2000 reais por mês, o dobro dos negros.
Para a consultora de diversidade em empresas, Ana Bacon, uma mudança que é longa, mas que precisa começar ontem.
Hector Barros sente essa diferença na pele.
Professor e doutorando em biologia, é o único negro da sua turma, na Universidade de São Paulo, a mais prestigiada do país.
Para Hector, os brancos também precisam ter responsabilidade para construir um cenário de mudança e de uma sociedade anti-racista no Brasil.