A desconfiança dos cidadãos angolanos para com as instituições do Estado pode afetar o censo populacional iniciado quarta-feira, 18 de setembro, em Angola.
O primeiro e único censo foi levado a cabo há 10 anos e na altura o resultado indicou pouco menos de 30 milhões de pessoas em território angolano.
Veja Também INE diz que emprego aumentou, mas angolanos não veem mudançasNo lançamento do censo, o coordenador geral da comissão multissetorial, encarregue deste censo, o ministro de Estado e Chefe da Casa Militar do Presidente da República, Francisco Pereira Furtado, manifestou-se otimista que depois do censo o governo pode dar melhores respostas aos desafios dos angolanos.
"O Executivo poderá saber quantos angolanos vivem em condições de pobreza, de debater e planear ações para promover o desenvolvimento de políticas públicas visando o bem estar das populações do país", disse.
O demógrafo social João Lukombo Nza Tuzola compara o censo a uma bússola que pode orientar todas as políticas públicas com mais rigor.
"Depois do censo você pode organizar programas sectoriais, pode saber qual é a situação do mercado de emprego, da delinquência, qual a situação da população ativa que por ano precisa entrar para o mercado, qual é a situação dos reformados, quanto se deve poupar para a segurança social, todas estas luzes é que vão mostrar caminhos e não ir as cegas", sublinhou.
O investigador do Afrobarómetro, David Boyo, fez notar que o censo em si não significa automaticamente melhor desenvolvimento “senão o país já seria desenvolvido porque fizemos o censo em 2014”.
Veja Também Construção civil em crise em Angola“O desenvolvimento depende da utilização que é feita dos números obtidos, e como esses números são produzidos", afirmou.
"Existe um nível muito alto de desconfiança nas instituições do Estado corporizadas pelo governo, por motivos de ausência de transparência, nós não confiamos nos dados do governo”, disse.
Outro desafio que, no entender do professor universitário Paulo Inglês, poderá impactar negativamente o censo é a componente logística.
A fase de recolha de dados vai decorrer em todo território nacional durante aproximadamente um mês, para se seguir a fase de análise e tratamento dos dados deste censo 2024.