O Níger anunciou esta terça-feira, 6, a rutura de relações diplomáticas com a Ucrânia "com efeito imediato", dois dias depois do Mali, criticando Kiev por "apoiar" "grupos terroristas", após o exército maliano ter sofrido uma pesada derrota no final de julho em combates com separatistas e jihadistas.
"O governo da República do Níger, em total solidariedade com o governo e o povo do Mali, decidiu com toda a soberania (...) romper as relações diplomáticas entre a República do Níger e a Ucrânia com efeito imediato", declarou o porta-voz do governo nigerino, o coronel-major Amadou Abdramane, num comunicado difundido na televisão estatal, na terça-feira.
No final de julho, separatistas e jihadistas afirmaram ter matado dezenas de membros do grupo paramilitar russo Wagner e soldados malianos durante combates em Tinzaouatène, na fronteira com a Argélia, no extremo nordeste do país.
O exército do Mali e o grupo Wagner reconheceram a existência de pesadas perdas, sem no entanto indicar o número exato de mortos.
Os analistas concordam que esta derrota é a mais pesada sofrida numa única batalha pelo grupo Wagner em África.
Um oficial dos serviços secretos militares ucranianos, Andriï Youssov, tinha insinuado que Kiev tinha fornecido informações aos rebeldes para que estes pudessem levar a cabo o seu ataque.
"O governo da República do Níger tomou conhecimento, com grande espanto e profunda indignação, das declarações subversivas e inaceitáveis do Sr. Andriï Youssov, porta-voz da agência de informação militar ucraniana", declarou Abdramane na terça-feira.
E "aquelas, ainda mais indecentes, do embaixador ucraniano no Senegal, Yuri Pyvovarov, dando um apoio inequívoco à coligação de grupos terroristas responsáveis pelo ataque cobarde e bárbaro perpetrado em Tinzaouatène contra as forças armadas malianas", continuou, condenando veementemente "os actos de agressão, sinónimo de apoio ao terrorismo internacional".
"O facto de os rebeldes terem recebido os dados necessários para levar a cabo uma operação contra os criminosos de guerra russos já foi observado por todo o mundo. Naturalmente, não divulgaremos os pormenores. Mais informações virão também aqui", disse Yussov à televisão ucraniana. O embaixador ucraniano no Senegal transmitiu o vídeo.
Na sequência destas declarações, o Mali anunciou no domingo o corte de relações com a Ucrânia, também com "efeito imediato".
Tanto o Mali como o Níger, liderados respetivamente pelo coronel Assimi Goïta e pelo general Abdourahamane Tiani, aproximaram-se da Rússia após a subida ao poder de regimes militares hostis aos países ocidentais e acolhem os instrutores russos.
Por seu lado, a Ucrânia rejeitou na segunda-feira acusações semelhantes do Mali e lamentou o que considerou ser uma rutura "precipitada".
Remessa para a ONU
De acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Kiev "adere incondicionalmente às normas do direito internacional" e "reserva-se o direito de tomar todas as medidas políticas e diplomáticas necessárias em resposta a acções hostis".
O regime nigeriano também anunciou na terça-feira que estava a "remeter o assunto para o Conselho de Segurança das Nações Unidas para que este se pronuncie sobre a agressão ucraniana".
O regime nigeriano também assinalou "o silêncio dos Estados africanos e da União Africana em particular" e "apelou à comunidade internacional para que assuma as suas responsabilidades".
Na segunda-feira, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), que o Mali e o Níger - tal como o Burkina Faso - abandonaram em janeiro, expressou "a sua firme desaprovação e condenação de qualquer interferência estrangeira na região".
Condenou igualmente "qualquer tentativa de arrastar a região para os actuais confrontos geopolíticos".
No sábado, as novas autoridades senegalesas disseram ter convocado o embaixador ucraniano em Dakar, enquanto o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, reafirmou o seu apoio a Bamako.