Defensores de direitos humanos criticam vídeo de militares a maltratar cadáveres em Moçambique

Palma, Cabo Delgado, Mozambique

Analistas políticos e defensores de direitos humanos moçambicanos afirmam que a conduta de militares aul-africanos, que aparecem num vídeo supostamente a maltratar cadáveres, pode impedir que os rebeldes arrependidos se entreguem às autoridades para amnistia.

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Defensores de direitos criticam vídeo de militares a maltratar cadáveres em Moçambique

O vídeo, que se tornou viral nas redes sociais e nos meios de comunicação social, mostra alguns soldados a atirar um cadáver a um amontoado em chamas; outro soldado derrama um líquido sobre o corpo, enquanto outros, incluindo um com uniforme sul-africano, assistem e filmam a cena com os seus telemóveis.

O analista moçambicano, Samuel Simango, que acompanha o conflito em Cabo Delgado, defende que faltou ética por parte da tropa sul-africana, sendo o maior contribuinte da força regional que combate o terrorismo, em Cabo Delgado, no norte de Moçambique.

Deplorável

“Esperamos que o governo moçambicano repudie atos como estes, embora saibamos que a presença dessas tropas, seja importante e útil para a perseguição e aniquilamento das bases” terroristas, frisou Simango, ao considerar “deplorável e condenável” a actuação militar.

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Ele entende que apesar da guerra em Cabo Delgado não estar declarada, “é preciso cumprir um mínimo de convenções de guerra”, que inclui respeito pelos direitos humanos e um julgamento justo aos rebeldes capturados.

“Se os insurgentes forem encontrados devem ser levados a barra da justiça, porque inclusive já tem havido julgamentos de insurgentes em Moçambique” destacou Simango, insistindo que estes actos não devem ser “estimulados” entre a força regional, porque deixarão marcas negativas na guerra em Cabo Delgado.

Simango, que é professor universitário, alerta que a acção pode perigar os esforços do governo de ter os rebeldes arrependidos a se entregarem.

Por sua vez, o defensor de direitos humanos, Raul Feniasse, disse “é necessário tomar medidas para que estes actos sejam corrigidos”.

Investigação

Os detalhes do incidente não são ainda claros. A Força de Defesa Nacional Sul-africana (SANDF) disse que se acreditava ter tido lugar, em Novembro, em Moçambique.

A SANDF emitiu uma declaração afirmando que o comandante das forças da SADC tinha ordenado uma investigação sobre um "acto desprezível" que tinha implicado "atirar corpos mortos".

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O partido sul-africano Aliança Democrática (DA), na oposição, descreveu o incidente como um "constrangimento" para o país, e pediu ao governo para lançar a sua própria investigação para esclarecer, entre outras coisas, se os corpos era de civis ou combatentes.

Os militares sul-africanos foram destacados para Cabo Delgado sob os auspícios do bloco regional da SADC, em 2021, para apoiar os militares moçambicanos na luta contra os militantes islamistas.

Mais de 4.500 pessoas foram mortas e, pelo menos, um milhão foram forçadas a fugir das suas casas desde que militantes ligados ao Estado islâmico lançaram uma insurreição na província de Cabo Delgado, rica em gás, em Moçambique, em 2017.

O governo recuperou o controlo sobre grande parte da região desde o destacamento de milhares de tropas de países da SADC e do Ruanda, mas os ataques e incursões dos jihadistas continuam.