Em Angola começam a surgir avisos de que as limitações impostas pelo estado de emergência para combater a pandemia da Covid-19 poderão levar as pessoas mais pobres ao desespero e a possíveis confrontos com as autoridades.
A Associação Angolana dos Vendedores Ambulantes (AAVA) alertou para a possibilidade de mortes por fome em famílias de mulheres vendedoras de ruas, enquanto na província de Benguela um líder comunitário avisou que se poderá estar a atingir ao ponto de ruptura com a capacidade dos mais pobres aguentarem as restrições.
Veja Também Angola Fala Só - Fernando Kawendimba receia o dilema "morrer de fome ou morrer de coronavírus"Em Luanda, várias vendedoras de rua disseram à VOA que, apesar de por lei estarem autorizadas a vender até às 13 horas, são muitas vezes impedidas de sair à rua e correm o risco de não ter alimentos para os seus filhos.
“Pelo menos que nos deixem vender até 13 horas como disseram, estamos de corrida atrás de corrida, é importante que nos ajudem, nós não temos por onde comer”, disse uma vendedora, referindo-se ao fato de terem que fugir da polícia.
José Ambrósio Cassoma, presidente da Associação Angolana dos Vendedores Ambulantes (AAVA), diz que a queixa vem de todas as províncias e avisou que Angola poderá registar mortes por fome em famílias de mulheres zungueiras.
Veja Também Aumentam denúncias de agressões a cidadãos por agentes da ordem em Angola“Quando denunciamos, as pessoas pensam que é por capricho mas não é capricho pois se o Governo não apoiar com cesta básica estas famílias vamos assistir a muitas mortes por fome em famílias de mulheres zungueiras”, disse.
No município do Cubal, na província de Benguela, o ativista Pedro António, líder comunitário, disse que há grandes aglomerações nos mercados forçados a fechar às 13 horas.
“É muita procura de milho e fuba. Já não vão aguentar mais tempo, as autoridades devem encontrar soluções’’, disse, acrescentando que "as pessoas continuam nas praças para lá das 13 horas, e a polícia corre com o povo”.
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A cinco dias do levantamento do estado de emergência, o coordenador executivo da organização cívica Omunga, João Malavindele, ao lado de parceiros na prevenção comunitária no município do Lobito, em Benguela, disse que ‘’vai haver um braço-de-ferro muito grande, as pessoas vão sair de casa e as forças vão agir”.
“Portanto, o Governo deve criar condições, não em termos militares, mas para que as pessoas cumpram’’, disse Malavindele.
Numa declaração feita na presença do ministro de Estado e chefe da Casa Civil da Presidência da República, Frederico Cardoso, o governador de Benguela, Rui Falcão, avisou que a prorrogação do estado de emergência, sendo inevitável, pode deixar os governos provinciais sem dinheiro.
“Todos nós sabemos que vamos prorrogar este estado, por isso é preciso que haja reforço financeiro’’, apela Falcão.
Em Benguela, realce para a detenção de oito elementos da Igreja Adventista, entre obreiros e pastores, por suposto desacato às autoridades quando realizavam um culto com mais de 200 pessoas.