Milhares de deslocados devido ao terrorismo na província moçambicana de Cabo Delgado enfrentam fome severa nos campos de abrigo e nas aldeias do interior para onde regressaram.
Em conversas com a Voz da América, alguns alertam que o corte na ajuda do Programa Mundial para Alimentação (PMA) pode agravar a já critica situação humanitária na província.
A distribuição irregular da ajuda humanitária em Cabo Delgado forçou milhares de deslocados a deixarem os campos de abrigo para as aldeias de origem, na esperança de reativarem a produção agrícola para seu autossustento, mas a seca e a insegurança provocada por novos ataques, estão a dificultar as colheitas e a agravar sua vulnerabilidade.
Outras centenas de famílias que permanecem nos campos de abrigo enfrentam limitações no acesso a ajuda humanitária, estando a maioria a se alimentar de papas feitas à base de mangas verdes e sopas de folhas de mandioca piladas.
“A situação da fome está a piorar mesmo, você chega no campo encontra pessoas magrinhas. Há duas semanas que não estão a comer nada, só ficam a comer matapa (sopa de folhas piladas). Aqui ainda não tem nada, nem as machambas estão a produzir”, disse à Voz da América Rodrigues Adamo, líder de um campo em Impire.
Aquele responsável disse que a ajuda humanitária começou a ser seletiva desde o inicio do ano, com uma parte dos deslocados a receber o apoio alimentar e a outra não, situação que tem provocado desconforto nos campões de abrigo.
“Só estão a receber aqueles que têm cartões e os que não tem cartões não estão a receber nada, e essas famílias que tem cartões são poucas. Das famílias que não tem cartões estão a passar muito mal, você sentado com o seu vizinho, ele a receber e a comer e você com crianças a assistir, torna-se complicado e sentimental”, sublinhou Adamo.
Outro líder de um acampamento em Metuge disse à VOA, sob anonimato, que as autoridades estão a fazer um novo levantamento, baseado no movimento de deslocação da população, para assegurar que famílias verdadeiramente atingidas pelo terrorismo se beneficiem da ajuda humanitária.
“Fizemos uma lista de novo para dar os do PMA, para trazer comida para essas famílias e até agora não esta a sair nada”, sublinhou
O chefe de escritório do Programa Mundial para Alimentação (PMA), em Cabo Delgado, Maurício Burtet, anunciou recetemente um corte de assistência de 600 para 400 mil deslocados de terrorismo por falta de fundos daquela agência das Nações Unidas para cobrir as necessidades humanitárias naquela região.
O corte também foi provocado pelo aumento da situação humanitária decorrente das guerras à escala global, como a Ucrânia-Rússia e Israel-Hamas.