João de Barros, filho da antiga ministra das escas de Angola, Victoria de Barros Neto, foi um dos beneficiários do esquema de corrupção que envolveu a Namíbia, Angola e uma companhia da Islândia, revelou o jornal The Namibian.
O escândalo envolve contratos de pesca assinados pela antiga ministra entre Angola e Namíbia em 2014 que resultaram recentemente na demissão de dois ministros namibianos.
Os acordos envolvem um total de 170 milhões de dólares, a empresa nacional de pescas da Namíbia e a empresa Namgomar, uma alegada joint-venture dos dois países e chefiada por Ricardo Gustavo, da companhia de investimento Investec Asset Management.
Veja Também Lourenço exonera ministras e nomeia líder da JMPLA governador de LuandaA Namgomar foi uma empresa criada para atribuir licenças e quotas de pesca entre os dois Governos que foram, contudo, usadas por entidades privadas e a nível pessoal.
Segundo os documentos os angolanos envolvidos beneficiaram de um esquema que visava essencialmente enriquecer os ministros namibianos e os seus próximos.
Johannes Stefanson, antigo funcionário da empresa islandesa que divulgou os documentos, afirma que o acordo bilateral foi feito “para criar rendimentos para pessoas-chave na Namíbia e em Angola, mas principalmente na Namíbia”.
A Namgomar vendeu as quotas de pescado doadas pela Namíbia a Angola a uma companhia de pesca da Islândia muito abaixo dos preços de mercado e depois pagou comissões de consultoria.
Uma companhia com o nome de uma região turística angolana, Tundavala, foi registada no Dubai para canalizar cerca de 10 milhões de dólares de comissões de consultoria.
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Os nomes das pessoas envolvidas, incluindo Victoria e João de Barros, estão contidos em e-mails, recibos de pagamentos, facturas e contas bancárias fornecidos pela organização Wikileaks ao jornal The Namibian e outros órgãos de informação.
“E-mails mostram que João de Barros beneficiou da Nangomar”, garante o jornal.
Os documentos agora revelados indicam que João de Barros acompanhou o director da Investec, James Hatuikulipui, o ministro da justiça da Namíbia, Sacky Shangalala, e o genro do ministro das Pescas da Namíbia numa visita à Islândia em 2013 durante as negociações.
Um ano mais tarde, Hatuikuilipui enviou um e-mail ao director da companhia islandesa a insurgir-se contra o facto de a empresa ter levantado dúvidas sobre a necessidade de se fazer pagamentos adiantados a Angola.
“Temos os ministros de Angola e Namíbia a trabalharem para assegurar que vamos ter acesso a esses locais de pesca”, escreveu James Hatuikulipui, avisando depois que as dúvidas da companhia islandesa poderiam pôr em causa o acordo com Angola.
Mais tarde, já depois de o acordo ter sido assinado, os namibianos disseram à companhia islandesa que “temos que preparar um plano para a Angola e administrar os parceiros angolanos e as suas expectativas”.
“A oportunidade que temos em Angola e na Namíbia não existe para todos. Antes de alguém acordar temos que avançar e ter um impacto. Isso irá proteger ambos os ministros”, diz uma nota agora divulgada
Em Janeiro deste ano, o Presidente angolano João Lourenço demitiu a ministra das pescas Victoria Barros, mas não se sabe se a demissão está ligada a este caso.
Na semana passada, os ministros das Pescas e da Justiça da Namíbia demitiram-se e as contas bancárias do ministro da justiça e do director da Investec James Hatuikulipui foram congeladas.