Angola é apontada pelos Estados Unidos da América (EUA) e pela China como referência obrigatória no quadro de uma política externa que prevê largos biliões de dólares para o desenvolvimento de África, perante receios de falta de condições políticas para que as duas maiores economias mundiais coabitem no país sem os olhos postos na hegemonia.
Há quem aponte já para problemas de gestão destas parcerias, tendo como base a extensão do Corredor do Lobito, sem qualquer participação dos chineses, que até foram os autores da reabilitação da linha-férrea.
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China, que prevê passar de 300 para mais de 500 empresas em Angola nos próximos anos, tem mais de 50 mil milhões de dólares para investir nos próximos três anos em África, ao passo que os Estados Unidos da América jogam com a iniciativa Power África no tabuleiro da geopolítica.
Com os chineses fora do projeto de extensão do Corredor do Lobito, agora apoiado pelos Estados Unidos e países europeus, o analista político José Cabral Sande alerta para o que chama de inexistência de garantias reais para o anunciado investimento em meios rolantes, eletrificação, entre outras ações.
“A dicotomia China/EUA nunca vai ser possível, cada um deles quer a hegemonia em África, principalmente em Angola. Nós próprios não estamos a ter cuidado em gerir estas duas parcerias e, mesmo sem todas as garantias do americano, já estamos a descartar os chineses”, salienta Sande.
Aquele analista político adianta que “a nível da própria estrutura a que me habituei chamar de Caminho-de-ferro de Benguela já está a haver esta opção, o consórcio não vai operar na linha dos chineses, não vai usar os mesmos meios, vai ter os seus carris, pontes e estações, não ficará com o fracasso que a China fez”.
Por seu lado, o consultor social João Misselo da Silva espera que os norte-americanos não percam a sua matriz em relação aos direitos humanos e transparência.
Ele considera que uma pretensa revisão da lei de terras, como defendem empresários dos Estados Unidos, visa precisamente afastar os chineses de um reduto onde têm muitos privilégios.
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“A China não respeita os princípios da promoção dos direitos humanos, não respeita os funcionários que coloca nas grandes empreitadas em Angola. Do outro lado, temos os Estados Unidos da América que coordenam uma série de países ocidentais e que respeitam estes princípios. Mas impõem uma revisão da lei de terras para investimentos a longo prazo, acompanhada por reformas na administração da justiça”, comenta aquele consultor.
Ciente deste duelo dos gigantes mundiais, o economista Alfredo Sapi avisa que, nos dois casos, o Governo deve arrumar a sua casa, começando por dinamizar o empresariado nacional.
“Estou a falar concretamente a nível de créditos bonificados, com juros mais atractivos, algo que nunca mais aconteceu. Só a partir daí a classe terá capacidade suficiente para competir com os outros. O Corredor do Lobito é um todo, não podemos nos esquecer da influência que pode ter a refinaria do Lobito, tudo isso vai impulsionar a mobilidade entre os vários pontos”, sustenta Sapi.
Os Estados Unidos têm no Corredor do Lobito a via para a recepção do minério dos chamados países encravados, a República Democrática do Congo e a Zâmbia.
Dados oficiais indicam que a dívida de Angola à China é de 23 mil milhões de dólares, quase seis vezes à de Angola aos EUA.
As autoridades angolanas anunciaram para este ano o lançamento do concurso para a concessão do Corredor Sul, que compreende o Porto do Namibe e o Caminho-de-ferro de Moçâmedes.
O investimento americano em Angola, em especial do Corredor do Lobito, estará no centro da visita do Presidente Joe Biden, inicialmente para acontecer de 13 a 15, mas que foi adiada devido à passagem do furacão Milton, na semana passada.