Conversas entre Sérgio Moro e procuradores levam a encontro em Bolsonaro e o ministro

  • Patrick Vaz

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O Presidente brasileiro Jair Bolsonaro reúne-se nesta terça-feira, 11, com o ministro da Justiça, Sérgio Moro, para tratar das conversas divulgadas pelo site The Intercept Brasil.

Os diálogos mostram o então juiz federal supostamente a orientar procuradores da Operação Lava Jato, o que fere o princípio de imparcialidade da Constituição, sob risco de anulação dos processos e eventuais condenações.

Numa primeira reacção, na segunda-feira, Sérgio Moro disse que os trechos das conversas divulgadas não mostram prática ilegal.

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“Na verdade, eu me manifestei ontem [domingo], não vi nada de mais nas mensagens. Havia uma invasão criminosa de celulares de procuradores, pra mim isso é um fato bastante grave ter havido essa invasão e essa divulgação. E, quanto ao conteúdo, no que diz respeito a minha pessoa, eu não vi nada de mais. O juiz conversa com procuradores, o juiz conversa com advogados, o juiz conversa com policiais, isso é normal", disse Moro, antes de encerrar a entrevista.

Num vídeo publicado na internet, o procurador Deltan Dallagnol também defendeu-se das acusações de conluio que sofre desde a publicação de mensagens que teria trocado com Sérgio Moro.

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Para ele, o conteúdo das conversas não é fidedigno e a Lava Jato não é partidária.

"Só a Lava Jato em Curitiba acusou políticos e pessoas vinculadas ao PP, ao PT, ao PMDB, ao PSDB, ao PTB, e só a colaboração da Odebrecht nomeou 415 políticos de 26 diferentes partidos. Ou seja, a Lava Jato é contra a corrupção e não tem partido", afirmou.

Ele disse, ainda, que a Lava Jato produziu provas robustas contra o ex-Presidente Lula da Silva no caso do tríplex.

Dallagnol também afirmou que o tipo de diálogo que teve com Moro é normal.

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"É normal que procuradores e advogados conversem com juízes sem a presença da outra parte. O que se deve verificar é se existiu conluio ou quebra da imparcialidade. A imparcialidade da Lava Jato é confirmada por muitos fatos. Centenas de pedidos feitos pelo Ministério Público foram negados pela Justiça. Cinquenta e quatro pessoas acusadas pelo Ministério Público foram absolvidas pelo [então] juiz federal Sérgio Moro. Nós recorremos centenas de vezes contra decisões, o que mostra não só que o juiz não acolheu o que o Ministério Público queria, mas mostra que o Ministério Público não se submeteu ao entendimento da Justiça. Some-se a tudo isso que todos os atos e decisões da Lava Jato são revistos por três instâncias independentes do Poder Judiciário, por vários julgadores", concluiu.

A nível político, os partidos de oposição decidiram que vão obstruir as votações de interesse do Governo até que seja aberto um processo de investigação relacionado às conversas entre o ministro Sérgio Moro, ainda como juiz federal, e procuradores da Lava Jato.

Ao mesmo tempo, os opositores falam em pedir o afastamento do ministro e também em uma Comissão Parlamentar de Inquéritopara investigar o caso.

O vice-Presidente da República, Hamilton Mourão, por seu lado, considerou que as conversas publicadas pelo portal The Intercept Brasil foram descontextualizadas.