Confrontos entre os insurgentes e as forças estatais moçambicanas, que tentam recuperar o controlo da vila e o porto de Mocímboa da Praia, mantinham “tensa e deserta” até esta terça-feira, 18, a principal e estratégica vila do norte de Cabo Delgado, contam moradores.
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Trata-se de moradores que viram o início deste ultimo ataque a Mocímboa da Praia, no dia 6 do corrente mês, que culminou com a captura e ocupação do porto, no dia 11.
“Eu e mais algumas pessoas fugimos para Luvula no dia 7, mas a situação só aumentava de intensidade; decidimos então sair do esconderijo no dia 16 e caminhar pela mata até Pundanhar” disse à VOA um morador local, descrevendo que ainda se podiam ouvir disparos de armas pesadas e aeronaves a sobrevoar próximo ao esconderijo.
Veja Também Moçambique: Insurgentes controlam o Porto de Mocímboa da Praia, confirmam as autoridadesO grupo de deslocados, contou o morador, tenta chegar agora a Mueda, usando a via mais longa por recear represálias na busca de refúgio em Palma, que fica a poucos quilómetros de Pundanhar.
“Esperávamos que os ataques fossem durar pouco tempo, como foi das outras vezes. Mas desta vez a situação esta muito tensa, e quase não há população em Mocímboa, nem nas redondezas, com esperança de voltar a Mocímboa”, disse um outro morador, adiantando que os insurgentes já tinham dado ultimato para a população abandonar a vila.
“Quando vinham atacar, eles sempre diziam para sairmos definitivamente de Mocímboa, porque queriam ocupar” e desaconselhavam as “pessoas a procurar abrigo em Mueda,” disse.
Os insurgentes controlam o porto de Mocímboa da Praia, desde a noite de terça-feira, 11, após quase cinco dias de confrontos. Reporta-se que a Marinha de Guerra, que defendia o porto, ficou sem munições.
Numa conferencua de imprensa, na semana passada, os ministros moçambicanos do interior e da defesa confirmaram que a situação continuava tensa em Mocímboa da Praia, dois dias depois do Estado Islâmico ter divulgado nos seus canais de comunicação imagens mostrando elementos das forças estatais mortos, e armas e munições capturados em duas barracas de Mocímboa da Praia supostamente pela filial moçambicana.
Ultimato da Tanzânia
No dia em que a Tanzânia entregava a presidência executiva da SADC a Moçambique, as forças estatais daquele país vizinho lançaram um ultimato a quem estivesse dentro das florestas em Lindi, Mtwara e Rovumapara que devesse imediatamente abandonar antes que fosse fustigado pelas forças de defesa.
Veja Também Filipe Nyusi garante apoio da SADC na luta contra o terrorismoAs Forças de Defesa da Tanzânia, acreditam que alguns insurgentes que lançam ofensiva contra Moçambique estejam escondidos nas florestas da região da fronteira comum, segundo reporta a imprensa daquele país, nesta terça-feira, 18.
O anúncio acontece vários meses após criticas sobre o “silêncio” e a “inércia” da Tanzânia no combate aos insurgentes que atacam, desde 2017, os distritos a norte de Cabo Delgado, na fronteira com o país.
“As forças tanzanianas estão em manobras militares” disse o chefe das operações da brigada sul das Forças Armadas da Tanzânia, ao anunciar a ofensiva militar na vila de Luagala, distrito de Mbinga, na província de Ruvuma.
Apoio tímido da SADC
Os chefes de Estado e de Governo dos países da Comunidade de Desenvolvimento da Africa Austral (SADC) manifestaram o seu apoio ao governo moçambicano no combate aos grupos armados que atacam no norte do país, durante a 40o Cimeira (virtual), em Maputo.
O terrorismo em Cabo Delegado não passou ao lado e resultou até numa diretiva geral, que aponta para outra atitude dos 16 países.
“A cimeira apontou para a necessidade de reforçar a coesão e a cooperação entre os Estados membros, na prevenção e combate ao crime transfronteiriço, com incidência para o terrorismo e as suas mais variadas formas e manifestações”, afirmou Filipe Nyusi, no encerramento.
O secretariado executivo da SADC ficou encarregue de elaborar um plano de ação de combate ao terrorismo, ataques violentos, crime cibernético e os efeitos nefastos das mudanças climáticas.
A cimeira ainda reiterou a posição de manter a configuração da brigada de intervenção na República Democrática do Congo “pelo seu apoio contínuo visando alcançar a paz e a segurança” no país.