Um dos moradores contou à VOA que o comerciante foi raptado no interior da sua casa, por quatro homens encapuzados e vestidos com a farda da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), uma força da Polícia moçambicana especializada antimotim, mas que combate a insurgência no norte de Moçambique.
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O comerciante reapareceu no início da tarde desta sexta-feira, 10, mas não se conhecem detalhes do cativeiro ou do resgate.
Geralmente, contaram vários moradores, as tropas invadem as casas dos comerciantes extorquindo altos valores em dinheiro sob ameaça de os denunciar ou entregar as autoridades judiciais alegadamente por financiamento ao terrorismo.
“Aqui todos os dias as pessoas estão sendo raptadas ou sequestradas nas noites e nas suas residências, sobretudo os agentes económicos”, disse à VOA um morador local, na condição de anonimato por temer represália, insistindo que os raptos são “uma realidade que ainda não terminou”.
“Esse negócio continua de forma clandestina agora, como aquelas forças internacionais estão cá, então a nossa força continua a torturar a população”, nas noites, vincou, acrescentando que os raptores sempre pedem valores para não abrir um processo-crime por financiar uma insurgência armada, ativa desde 2017 em Cabo Delgado.
A situação já tinha sido exposta em Janeiro durante um comício popular do governador provincial, na sua visita a Nangade, mas os denunciantes foram logo a seguir detidos pela Polícia.
Os denunciantes só viriam a ser soltos devido uma ameaça de manifestação popular e intervenção dos líderes locais.
“Aquele capturado no comício do governador foi deixado porque muitos entraram ali em defesa dele, dizendo ‘que não havia razão de o deter porque era liberdade de expressão’, então o deixaram ir” ,contou, ao mencionar o caso.
Contactada a Polícia em Pemba, disse que não haviam casos reportados de rapto ou sequestros de comerciantes por forças estatais em Nangade, a apelou às vítimas a submeter queixas nas unidades policiais.
“É preciso expor essa situação (às autoridades) para que seja composta uma equipe de investigação e deslocar-se a Nangade, para investigar e pôr fim à mesma situação”, disse à VOA, Eugenia Nhamussua, porta-voz da Polícia no comando provincial da Polícia em Cabo Delgado.
Considerando o comportamento dos raptos anormal de comerciantes anormal, a responsável descreveu que a ser verdade, “é uma situação que não dignifica aquilo que é o trabalho da Polícia da República de Moçambique (PRM)”.
Rica em gás natural, a província de Cabo Delgado enfrenta há quase seis anos uma insurgência armada promovida por um grupo rebelde, com alguns ataques reivindicados pelo grupo extremista Estado Islâmico, que já provocaram um milhão de deslocados, segundo ACNUR, e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.
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