A Plataforma de Aliança Inclusiva (PAI-Terra Ranka) classificou de “ação criminosa” a aterrissagem de um avião em Bissau com 2.663 quilos de cocaína e aponta o envolvimento de altas figuras do regime no tráfico de estupefacientes.
Num comunicado divulgado nesta terça-feira, 10, a coligação liderada pelo PAIGC e vencedora das eleições legislativas de 2023 exige “a realização de um inquérito internacional independente, com o apoio da DEA (Agência dos Estados Unidos de Combate à Droga) e de outras agências de combate ao narcotráfico” para esclarecer cabalmente os contornos de sobrevoo e aterragem de aeronave com grande quantidade de drogas no país.
Veja Também Detidos em avião com droga em prisão preventiva e aparelho vai para o EstadoA coligação exige também o “afastamento imediato de todos os elementos da Presidência da República que, a 7 de setembro, usurparam as competências legais da Polícia Judiciária e assumiram a coordenação dos trabalhos” de aeronave apreendida em Bissau com grande quantidade de droga.
A nota diz que "é do conhecimento público que o tráfico de drogas envolvendo altas figuras da hierarquia do Estado tem sido uma prática recorrente no regime de Umaro Sissoco Embaló", e ainda cita "relatos credíveis" que indicam que "voos suspeitos carregados de drogas têm aterrado frequentemente no Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira, supostamente com a conivência de elementos da Presidência da República”.
Veja Também Fórum para Salvação da Democracia responsabiliza PR pela aterrisagem de avião com droga em Bissau“Para além desta, também poderíamos falar de cargas desconhecidas que o Presidente Umaro Sissoco Embaló transportou aquando da sua visita ao Gabão, no voo da companhia gabonesa; poderíamos falar das nomeações que, quando assumiu a pasta de Ministro do Interior fez catapultar a lugares de chefia da Guarda Nacional e Policia de Intervenção rápida, indivíduos suspeitos, detidos, indiciados e julgados por crimes de tráfico de estupefacientes, assaltos à mão armada, mas que a fragilidade e a corrupção que grassa nos nossos tribunais têm protegido”, aponta a PAI-Terra Ranka.
A coligação continua afirmando que “desde que o atual Presidente assumiu o poder em 2020, o desaparecimento de suspeitos e condenados por tráfico de drogas tornou-se recorrente”, e lembrou “os casos das operações conhecidas como "Carapau" e "Navara", durante o mandato do PAIGC, em que os detidos foram levados à justiça, julgados e condenados".
Veja Também Aeronave com grande quantidade de droga apreendida em BissauE aponta que, "com a ascensão de Umaro Sissoco Embaló ao poder, todos foram libertados ou fugiram do pais de maneira misteriosa”.
A coligação afirma que a “aterrissagem e decolagem de aviões privados no Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira só é possível com o conhecimento e a devida autorização das autoridades governamentais” e sublinhou que "num pais onde as autoridades nomeadas e empossadas por Umaro Sissoco Embaló exercem controle absoluto do espaço aeroportuário", o tráfico de drogas "tornou-se um dos principais fatores de instabilidade politica na Guiné-Bissau, minando o tecido social guineense e prejudicando enormemente a imagem externa do pais”.
De acordo com a coligação, a "presença frequente de pessoas ligadas à Segurança e ao Gabinete do Presidente da República no aeroporto durante a chegada desses voos privados é uma prova irrefutável da ligação dessas instituições ao tráfico de drogas" e convidou o chefe de Estado, "a assumir a responsabilidade pelas nomeações que faz para cargos governamentais e jurisdicionais".
A coligação exige ainda “a incineração imediata das drogas apreendidas na presença dos parceiros, conforme tem ocorrido em operações anteriores [Carapau e Navara]”, e exorta ao Governo e à Presidência da República “a absterem-se de qualquer tipo de interferência politica no processo de investigação e apuramento de responsabilidades”.
No sábado, 7, a Polícia Judiciária apreendeu 2.633 quilogramas de cocaína a bordo da aeronave Gulfstream IV, com bandeira e registo no México e proveniente da Venezuela.
Os cinco tripulantes, dois mexicanos, um equatoriano, um colombiano e um brasileiro, foram detidos em flagrante e tiveram a prisão preventiva decretada ontem.
Na "Operação Landing", as autoridades guineenses tiveram a cooperação da agência dos Estados Unidos para o combate à droga, DEA, (Drug Enforcement Administration) e do Centro de Operações contra Narcótico e Análise Marítima".