Coligação PAI-Terra Ranka responsabiliza regime político pelo tráfico de droga na Guiné-Bissau

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Droga apreendida em avião pelas autoridades da Giuiné-Bissau, 7 setembro 2024

Plataforma liderada pelo PAIGC quer investigação independente ao tráfico de droga com o apoio da DEA e de outras agências de combate ao narcotráfico

A Plataforma de Aliança Inclusiva (PAI-Terra Ranka) classificou de “ação criminosa” a aterrissagem de um avião em Bissau com 2.663 quilos de cocaína e aponta o envolvimento de altas figuras do regime no tráfico de estupefacientes.

Num comunicado divulgado nesta terça-feira, 10, a coligação liderada pelo PAIGC e vencedora das eleições legislativas de 2023 exige “a realização de um inquérito internacional independente, com o apoio da DEA (Agência dos Estados Unidos de Combate à Droga) e de outras agências de combate ao narcotráfico” para esclarecer cabalmente os contornos de sobrevoo e aterragem de aeronave com grande quantidade de drogas no país.

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A coligação exige também o “afastamento imediato de todos os elementos da Presidência da República que, a 7 de setembro, usurparam as competências legais da Polícia Judiciária e assumiram a coordenação dos trabalhos” de aeronave apreendida em Bissau com grande quantidade de droga.

A nota diz que "é do conhecimento público que o tráfico de drogas envolvendo altas figuras da hierarquia do Estado tem sido uma prática recorrente no regime de Umaro Sissoco Embaló", e ainda cita "relatos credíveis" que indicam que "voos suspeitos carregados de drogas têm aterrado frequentemente no Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira, supostamente com a conivência de elementos da Presidência da República”.

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“Para além desta, também poderíamos falar de cargas desconhecidas que o Presidente Umaro Sissoco Embaló transportou aquando da sua visita ao Gabão, no voo da companhia gabonesa; poderíamos falar das nomeações que, quando assumiu a pasta de Ministro do Interior fez catapultar a lugares de chefia da Guarda Nacional e Policia de Intervenção rápida, indivíduos suspeitos, detidos, indiciados e julgados por crimes de tráfico de estupefacientes, assaltos à mão armada, mas que a fragilidade e a corrupção que grassa nos nossos tribunais têm protegido”, aponta a PAI-Terra Ranka.

A coligação continua afirmando que “desde que o atual Presidente assumiu o poder em 2020, o desaparecimento de suspeitos e condenados por tráfico de drogas tornou-se recorrente”, e lembrou “os casos das operações conhecidas como "Carapau" e "Navara", durante o mandato do PAIGC, em que os detidos foram levados à justiça, julgados e condenados".

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E aponta que, "com a ascensão de Umaro Sissoco Embaló ao poder, todos foram libertados ou fugiram do pais de maneira misteriosa”.

A coligação afirma que a “aterrissagem e decolagem de aviões privados no Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira só é possível com o conhecimento e a devida autorização das autoridades governamentais” e sublinhou que "num pais onde as autoridades nomeadas e empossadas por Umaro Sissoco Embaló exercem controle absoluto do espaço aeroportuário", o tráfico de drogas "tornou-se um dos principais fatores de instabilidade politica na Guiné-Bissau, minando o tecido social guineense e prejudicando enormemente a imagem externa do pais”.

De acordo com a coligação, a "presença frequente de pessoas ligadas à Segurança e ao Gabinete do Presidente da República no aeroporto durante a chegada desses voos privados é uma prova irrefutável da ligação dessas instituições ao tráfico de drogas" e convidou o chefe de Estado, "a assumir a responsabilidade pelas nomeações que faz para cargos governamentais e jurisdicionais".

A coligação exige ainda “a incineração imediata das drogas apreendidas na presença dos parceiros, conforme tem ocorrido em operações anteriores [Carapau e Navara]”, e exorta ao Governo e à Presidência da República “a absterem-se de qualquer tipo de interferência politica no processo de investigação e apuramento de responsabilidades”.

No sábado, 7, a Polícia Judiciária apreendeu 2.633 quilogramas de cocaína a bordo da aeronave Gulfstream IV, com bandeira e registo no México e proveniente da Venezuela.

Os cinco tripulantes, dois mexicanos, um equatoriano, um colombiano e um brasileiro, foram detidos em flagrante e tiveram a prisão preventiva decretada ontem.

Na "Operação Landing", as autoridades guineenses tiveram a cooperação da agência dos Estados Unidos para o combate à droga, DEA, (Drug Enforcement Administration) e do Centro de Operações contra Narcótico e Análise Marítima".