Quinze cidades brasileiras dos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo estão em alerta sobre o risco de enchente devido à onda de lama provocada pelo rompimento de duas barragens com rejeitos de minério em Mariana, cidade central de Minas Gerais. O aviso foi emitido pelo Serviço Geológico Brasileiro.
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O desastre aconteceu na última quinta-feira. A mineradora Samarco, responsável pelas barragens, informou que 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos foram liberados com o rompimento das barragens, o suficiente para encher 24.800 piscinas olímpicas.
A Samarco afirma que cumpriu com todas as regras do programa de emergência aprovado pelo município de Marina ao constatar a ruptura das barreiras. Entretanto, os moradores desabrigados ainda reclamam que faltou um alarme sonoro que pudesse antecipar o aviso à população. Questionada, a Samarco não soube dizer quantos telefonemas chegaram a ser dados aos moradores, nem mesmo qual era o conteúdo da mensagem.
Seiscentas pessoas viviam no distrito de Bento Rodrigues, que está completamente destruído. Vinte e seis estão desaparecidas e duas morreram, conforme autoridades, mas sindicalistas acreditam que 100 moradores sumiram com o desastre e há dezenas de mortos.
O Ministério Público de Minas Gerais já investiga se a mineradora Samarco deixou de cumpriu alguma norma de protecção ao meio ambiente. O inquérito civil público para apurar os motivos do rompimento da barragem deve ser concluído dentro de um mês.
Depois dessa tragédia em Mariana, mais uma vez, ganha força a discussão sobre os licenciamentos ambientais de grandes empreendimentos no Brasil. A coordenadora ambiental da União Federal de Minas Gerais (UFMG) Andrea Zhouri critica a falta de seriedade das empresas de grande porte na hora de elaborar um efectivo plano para a proteção do meio ambiente.
“É uma cultura de desvalorização, de negligência, de falta de seriedade por parte das empresas em relação à elaboração de estudos de impacto ambiental de qualidade, sério, cumprindo normas e etapas do licenciamento ambiental. Por outro lado, há também um sucateamento do órgão ambiental como a desvalorização dos técnicos, má remuneração, falta de equipamentos básicos como GPS, carros e outros instrumentos necessários para realização dos trabalhos inclusive o monitoramento in loco das obras já licenciadas. Os agentes ambientais estão sem condições de trabalho, ou seja, há uma desvalorização do próprio trabalho ambiental”, destacou.
Zhouri diz que passou a época de viadutos caírem na cabeça das pessoas e de mineradoras soterrarem cidades. “É inadmissível que no século 21 a gente assista viadutos caindo na cabeça das pessoas e barragens rompendo e dizimando populações inteiras. Isso é um absurdo e a sociedade tem que ficar indignada e atenta porque isso não é normal”, enfatizou.
A professora lamenta ainda que até hoje existam pressões externas para acelerar a liberação do licenciamento ambiental, sem respeitar um tempo necessário para estudo, em benefícios de terceiros.