As últimas enxurradas que caíram sobre Luanda destaparam os velhos problemas da capital angolana: deficiente sistema de drenagem, falta de saneamento básico, construções de baixa qualidade e, muitas vezes, sem o mínimo de observância do rigor científico.
Estas e outras são as situações que têm estado a rebentar Luanda pelas costuras.
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Dados do Serviço de Protecção Civil e Bombeiros (SPCB) apontam para oito mortes, inundação de três mil residências, desabamento de quatro outras e 300 famílias desalojadas a nível de quase todos os municípios em consequência da chuva, na capital angolana.
Cazenga e Cacuaco foram os municípios mais afectados.
A grande concentração de resíduos sólidos nas valas de drenagem a céu aberto, assim como a aglomeração de inertes nas linhas de passagem de água, para além das construções desorganizadas são apontadas pelos Bombeiros como as principais causas das inundações.
Risco de doenças
Os munícipes lamentam o facto da cidade não estar preparada para fortes chuvas e temem contrair várias doenças resultantes das águas paradas, em obras inacabadas feitas por empresas.
Respondendo ao apelo dos cidadãos, o governador da província de Luanda, Adriano André Mendes de Carvalho, visitou alguns bairros da cidade.
O governante disse estar preocupado com as famílias que vivem em zonas de risco e em lugares inapropriados para construção de habitações, que por seu turno obstruem a drenagem.
Os automobilistas lamentam que, apesar de pagarem as taxas para circulação automóvel, as vias não oferecem condições.
“A pessoa paga taxa de circulação enquanto as estradas não boas. Isto é complicado”, desabafou Joaquim Lourenço, automobilistas que viu a sua viatura encravada num buraco, na avenida Pedro de Castro Van-Dúnem Loy, em Luanda, bairro Golfe.
Manuel Pedro, motorista há 13 anos, defende a organização e o melhoramento dos serviços prestados à população.
“Neste momento vão exigir a taxa de 2018, mas as estradas estão mal. Gostaria que o governo melhorasse primeiro as vias rodoviárias depois é que cobrava”, desabafou.
Municipalização de serviços de saneamento
O engenheiro hidráulico, Francisco dos Santos, defende que o problema de Luanda está ligado a deficiência de saneamento ambiental.
Para o especialista, o que verifica ainda não pode ser considerado calamidade, pois que, não está fora do controlo. Pelo contrário trata-se da inexistência de infra-estruturas básicas adequadas para saneamento, drenagem, recolha e tratamento de resíduos sólidos.
“É preciso que haja planeamento do território. O que nós temos são zonas habitacionais chamadas de musseque, que não facilitam o saneamento ambiental, nem para o saneamento básico”, disse o especialista para quem “existe uma falta gritante sobre as matérias de saneamento.
“Os administradores municipais não têm capacidade de resolver problemas de calamidades, porque não têm recursos humanos, técnicos e financeiros”, explicou.
Este especialista defende a municipalização dos serviços básicos de saneamento.
“Água, esgoto, drenagem e lixo, estes quatro serviços que devem ser municipalizados. Se as administrações munirem-se de capacidade financeira e técnica de interpretação de projectos o maior beneficiário será o cidadão”, disse.