Chongoene-Gaza: Populares exigem cumprimento de promessas de mineradora chinesa

Populares do distrito de Chongoene, provincia de Gaza, sul de Moçambique, forçaram esta segunda-feira, 8, a paralisação das obras de construção de uma doca, através da qual a empresa mineira chinesa, Ding Sheng, pretende exportar areias pesadas que está a explorar em Chibuto e colocaram barricadas na estrada, que dá acesso ao local, exigindo o cumprimento das promessas feitas pelos investidores e pelas autoridades governamentais.

Analistas dizem situações como estas se registam em várias províncias moçambicanas e traduzem o sentimento de burla por parte da população que vê o recurso a ser explorado, mas sem qualquer benefício para as comunidades.

Your browser doesn’t support HTML5

Chongoene-Gaza: Populares exigem cumprimento de promessas de mineradora chinesa

As barricadas impediram a circulação das viaturas da concessionária de areias pesadas de Chibuto, porque, segundo António Uamusse, porta-voz da comunidade local, citado pela rádio pública, RM, a Ding Sheng não está a cumprir aquilo que foi prometido durante a fase da consulta comunitária para o desenvolvimento do projeto.

Transparência

‘’Eles prometeram construir uma escola, unidade sanitária, rede de abastecimento de água e eletricidade, bem como asfaltar a estrada, mas nada disso foi feito, e nós que temos as nossas casas próximas da estrada sofremos com a poeira provocada pelos camiões’’, afirmou o representante comunitário.

Entretanto, Rui Mate, pesquisador do Centro de Integridade Pública (CIP), diz que esta situação resulta da falta de transparência em todo este processo de exploração de recursos naturais em Moçambique, porque as pessoas olham para os cenários que ocorrem noutras regiões e percebem que as promessas feitas em termos de empregos, impostos e outros benefícios, e ainda no âmbito da responsabilidade social das empresas, não estão a ser cumpridas.

Mate refere que “quando as populações percebem que o recurso está a ser explorado, mas sem qualquer beneficio para as comunidades locais, há um sentimento de burla, porque dizem ‘nós cedemos as nossas terras, estamos a ser prejudicados, mas aquilo que foi prometido não está a ser cumprido’’’.

Silêncio

Por seu turno, o analista social Luís da Silva diz que revoltas como esta que houve no Chongoene ocorrem em muitos locais onde há exploração de recursos naturais, como são os casos de Zambézia, Cabo Delgado, Tete e Manica, entre outras províncias, porque há tentativas de marginalizar as comunidades locais, que são donas desses recursos.

‘’Muitas vezes nós dizemos que é falta de transparência, mas em alguns casos é uma atitude deliberada de ignorar as comunidades, e estas se insurgem como forma de manifestar o seu descontentamento, e quando isso acontece muitas vezes as comunidades são reprimidas por agentes policiais’’, realça o analista, que defende a adoção de mecanismos que permitam lidar com estas situações’’.

Relativamente à situação de Chongoene, as autoridades governamentais declinaram-se a pronunciar-se, o mesmo acontecendo com os responsáveis da concessionária Ding Sheng.