O primeiro-ministro chinês Li Keqiang realiza esta semana uma visita de oito dias Brasil, Colômbia, Peru e Chile, na que é considerada por analistas uma forte ofensiva na América Latina. Depois da África, a China aposta na América Latina para fazer negócios e aumentar a sua área de influência numa zona tradicional “dominada” pelos Estados Unidos.
No Brasil, Li Keqiang e Dilma Rousseff assinaram na terça-feira, 19, 37 acordos em várias áreas, entre as quais infra-estrutura, energia e mineração. Segundo o Governo brasileiro, os acertos envolvem investimentos de mais de 53 mil milhões de dólares.
O principal investimento anunciado é a construção de caminhos-de-ferro que ligarão a região o Pacífico à região centro-oeste do Brasil, atravessando o Peru. A obra abre caminhos a uma maior presença de produtos chineses em toda a América Latina, bem como o escoamento de produtos brasileiros para o gigante asiático.
Até o dia 26, quanto terminará o seu périplo pela região, o primeiro-ministro chinês deverá anunciar investimentos na ordem de mais 200 mil milhões de dólares na América Latina durante a próximo década.
Além de ampliar a influência de Pequim na região, analistas avaliam que esta ofensiva visa também amortecer os efeitos da desaceleração da economia chinesa.
Para Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo, a China tenta "desfazer o argumento de que vem para explorar o continente e criar uma relação de dependência" com países latino-americanos.
Uma das principais críticas à China na América Latina é a assimetria em suas trocas comerciais com a região. Os chineses compram principalmente matérias-primas de países latino-americanos, mas vendem-lhes produtos industrializados, com maior valor agregado.
Ao diversificar os seus laços com países latino-americanos para além do comércio e investir em áreas como infra-estrutura, Stuenkel considera que a China reforça o seu discurso de que não procura apenas o seu benefício na relação, mas integrar a América Latina à economia global. Enquanto isso, a China torna-se um actor político e económico de peso na região.
Em declarações à BBC, Margaret Myers, directora do programa de China e América Latina do Inter-American Dialogue, em Washington, afirma que os chineses oferecem à América Latina e outras regiões um modelo alternativo aos financiamentos dos Estados Unidos e de órgãos mundiais tradicionais.
Nos últimos anos, muitos países emergentes têm recorrido a empréstimos chineses em vez de se engajarem em lentas e complexas negociações com bancos multilaterais e países desenvolvidos, que costumam fazer uma série de exigências para liberar seus recursos.
A oferta global de crédito chinês deverá aumentar ainda mais nos próximos anos, quando começarem a operar o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), que a China gerenciará com seus parceiros nos Brics (Brasil, Índia, Rússia e África do Sul), e o Banco Asiático de Infraestrutura e Investimento (BAII), liderado por Pequim.