Proposta angolana de alargamento do Conselho de Segurança ONU recebida com ceticismo

Especialistas angolanos defendem que seria mais realista propôr o aumento de países na rotação dos membros não permanentes.

Especialistas angolanos manifestam dúvidas quanto à aceitação da proposta de reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, sugerida recentemente por Angola, em nome dos países africanos.

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Ceticismo rodeia proposta de Angola para alargamento do Consselho de Segurança -3:27

Durante a reunião plenária da Assembleia-Geral da ONU, que analisou o relatório do Conselho de Segurança, o representante de Angola na organização, Francisco José da Cruz, reafirmou a posição dos países africanos, assente na criação de dois assentos permanentes e cinco não permanentes para os estados africanos naquele órgão.

Para o jurista e especialista em relações internacionais, Sebastião Vinte e Cinco, a inserção de mais países membros no Conselho de Segurança não vai resolver o problema devido às agendas e interesses nacionais ou regionais.

Vinte e Cinco disse que um problema que iria de imediato surgir “é quem vai representar a África”.

"Porque, como em tudo, as pessoas antes de chegarem ao poder têm uma postura, mas depois de lá chegarem têm outra”, afirmou, acrescentando que “deve ser por esta razão que os membros fundadores da ONU continuam a ser muito conservadores”.

Para o especialista, "a voz de Angola, na verdade, não é das vozes que vai merecer tanta atenção e preocupação, porque o país não é economicamente rico e não tem grande influência na ONU”.

Sebastião Vinte e Cinco defende que os únicos países que podem exercer alguma influência nas decisões da ONU são os que integram os BRICS, onde estão presentes países de economias emergentes como a Índia e o Brasil.

"Só a emergência de países como os BRICS poderia ajudar a pressionar a ONU a alterar” o atual sistema, afirmou.

Adão Baião, especialista em relações externas, defende que a entrada de mais países membros para o Conselho de Seguranca deve ser entendida como uma das muitas reformas que devem ser operadas no organismo da ONU.

“Aquelas representações rotativas de membros não permanentes deveriam ser um pouco mais dilatadas para permitir uma maior representação dos países africanos”, defende Baião, para quem “a pressão neste sentido tem sido feita em várias frentes e esta seria uma delas”.

Baião também aponta os desafios que se colocam à aceitação dos objetivos dos países africanos por parte da Conselho de Segurança e ressalta a falta de unidade e também da dependência política e económica dos países africanos como um factor que os impede de tomarem decisões próprias dentro das organizações regionais ou internacionais.

"Alguns países ainda estão comprometidos em função do seu colonizador e dos seus próprios interesses e o próprio ocidente também trabalha muito com isso, porque os africanos não resistem à corrupção", acusou o especialista.