Centenas de moçambicanos procuram abrigo nos campos de apoio no Malawi devido à novos confrontos entre as forças governamentais e da Renamo.
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O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) alerta que a crise poderá provocar o aumento de pessoas em fuga.
Na última quinzena de Janeiro, 1.297 pessoas foram recebidas no campo de refugiados de Kapise, no distrito malawiano de Mwanza. As mulheres e crianças constituem um terço do grupo.
“Estava em Ndande, quando tudo começou, em Julho de 2015. Começou a guerra, lutavam a Frelimo e Renamo. Um dia dispararam perto da minha casa, conseguimos fugir eu, meu marido e as crianças e já no mato vimos a casa arder”, conta Lidia José, 24 anos, viúva e mãe de duas filhas, no campo de Kapise.
Esta mulher jovem que vivia da agricultura de subsistência conta que o marido foi capturado pelas forças governamentais, no segundo dia das confrontações, quando a família tentava deixar a aldeia.
Após a ocorrência, ela informou as autoridades locais, mas não teve nenhum apoio. Meses depois, soube da morte do marido.
Chorando sem parar, a jovem lamenta o desconforto de ser viúva e mãe num campo de refugiados.
Oficialmente não existem dados sobre as baixas provocadas por este conflito, sobretudo na região de Nkondezi, no distrito de Moatize, em Tete, que tem registado uma vaga de refugiados para o Malawi.
Até o momento, 3.900 moçambicanos refugiaram-se no Malawi desde a eclosão dos confrontos armados entre as Forças de Defesa e Segurança e homens armados da Renamo, em Moatize, em Julho de 2015.
As autoridades malawianas alertam para uma catástrofe, se o fluxo se mantiver nos próximos seis meses.
Os números do ACNUR são sustentados por relatos de refugiados no campo de Kapise de que as forças governamentais quando chegam às aldeias, além de ataques armados, e tortura fisicas, incendeiam as casas e celeiros e prendem homens, alegando que a população alberga apoiantes da Renamo.
Numa tenda vizinha da Lídia, outra mulher partilha o drama de ter visto o marido desaparecer durante os confrontos armados em Ndande, quando oito casas foram queimadas.
Ela suspeita que o marido esteja no grupo de homens detidos e queimados vivos no interior de uma cabana pelas forças governamentais.
“Vejá como estou agora, sem marido, nem comida. Como vou mandar à escola as crianças?” questiona Magrace Joaquim, 26 anos, mãe de cinco filhos, e grávida.
Nas tendas brancas do ACNUR e noutras dezenas barracas de estacas e capim, viúvas e órfãos do conflito armado em Moçambique reclamam a falta de assistência, sobretudo para a educação das crianças.
A crise politico-militar foi provocada pela recusa da Renamo em reconhecer os resultados das eleições gerais de outubro de 2014, alegando fraude, e da sua ameaça em governar à força nas seis províncias onde reivindica vitória.
O líder daquele partido, Afonso Dhlakama, não é visto em público desde 9 de outubro, quando a polícia cercou e invadiu a sua casa na Beira.