Cerca de 2.024 deslocados fugiram a uma nova escalada de violência armada de grupos rebeldes em aldeias de Muidumbe, um dos distritos “libertados” em Cabo Delgado, norte de Moçambique, sendo que centenas desta população já escapou os ataques por três vezes, disseram à VOA nesta sexta-feira, 25, autoridades e testemunhas.
Dados divulgados pela Organização Internacional das Migrações (OIM) indicam que os novos ataques de grupos armados, desde 16 de Novembro, provocaram uma movimentação, em dois dias, de 2.024 pessoas (43 por cento crianças) para o distrito de Mueda.
O distrito de Muidumbe recebeu milhares de pessoas, que tinham fugido dos ataques anteriores e da captura da sede distrital, no processo da normalização da vida apadrinhada pelo Governo.
Fora das estatísticas oficiais, outras centenas de pessoas estão refugiadas em aldeias próximas ainda não atingidas por esta nova vaga de ataques de grupos armados ligado ao Estado Islâmico, que após uma aparente calma, voltou a atacar os distritos a norte de Cabo Delgado.
Um deslocado, Amadeu Saíde, contou que várias aldeias estão abandonadas, por causa do medo, após o aviso dos rebeldes que regressariam para destruir tudo o que restou, a maioria das palhotas reconstruídas pelos deslocados que tinham regressado.
“Desde ontem e hoje as pessoas estão a sair. Estão a sair de carros e camiões carregados e estão a passar via Miteda. Namacande estão a sair, em Muambula já saíram”, disse Saíde.
Ele acrescentou que "hoje decapitaram uma pessoa, que é meu familiar, no troço Muambula-Namacande, ia levar seus pertences, ele estava a usar picadas no interior, conseguiu carregar a primeira vez, e a terceira vez caiu nessa situação".
Ainda segundo a mesma fonte, "o encontramos decapitado e levaram a cabeça dele e espetaram num pão na estrada”, acrescentando que os rebeldes estão muito violentos.
Outro deslocado, Latifo Ismael, disse que o movimento de fuga tinha abrandado na zona onde se encontrava, visto que muitos já tinham conseguido sair para zonas tidas como seguras.
“O movimento de deslocados está a registar uma diminuição, se comparado com os dias que antecederam o ataque de Muambula”, afirmou Ismael, quem indicou que muitos estão a refugiar-se em aldeias vizinhas, à espera da normalização da situação.
O grupo insurgente tem realizado uma série de ataques desde a semana passada, tendo as mais notáveis visado a coluna de viaturas da Força de Defesa Popular da Tanzânia, integrada na SAMIN, Missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, e a emboscada que matou um oficial da Polícia moçambicana e um trabalhador humanitário.
A Polícia da República de Moçambique (PRM) em Pemba ainda não se pronunciou sobre o ressurgimento dos incidentes nos distritos a norte de Cabo Delgado.