CEDEAO Reconhece Ouattara e ameaça Gbagbo

O presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan (à direita) e o presidente do Benin, Boni Yayi, durante a cimeira da CEDEAO em Abuja.

Está prevista uma manifestação, na próxima quarta-feira, em Abijan, para mostrar ao mundo que os países africanos querem decidir o seu próprio futuro

Washington,24 DEZ, 2010 - Os líderes da África Ocidental decidiram reconhecer a vitória do candidato da oposição nas eleições presidenciais da Costa do Marfim, Allassane Ouattara. E advertem o presidente Laurent Gbagbo que, se não transferir o poder para o vencedor das eleições, enfrentará "força legítima".

Os Chefes de Estado de países da CEDEAO reuniram-se na capital nigeriana, Abuja, esta sexta-feira, para uma reunião de emergência destinada a aprofundar o debate sobre a crise política na Costa do Marfim, na sequência da qual a ONU afirma que resultou na morte de mais de 170 pessoas.

O grupo de 15 países decidiu enviar um emisário para transmitir as decisões da CEDEAO a Gbagbo e anunciou uma reunião dos Ministros da Defesa para determinar o tipo de acção militar contra o ainda presidente marfinense.

A CEDEAO já suspendeu a Costa do Marfim, enquanto a União Europeia e os EUA, entre outras potências estrangeiras, que apelaram a Gbagbo para se demitir.

A reunião da CDEAO surge um dia depois da Assembleia Geral da ONU ter formalmente reconhecido Alasse Ouattara como o vencedor das eleições presidenciais realizadas na Costa do Marfim no dia 28 de Novembro.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Nigéria, Henry Ajumogobia, disse à VOA que o presidente nigeriano e actual líder da CEDEAO, Goodluck Jonathan, ofereceu apoio a Gbagbo caso este ceda o poder. Citamos: “Se se demitir, ele tem uma escolha. O presidente da Nigéria, Jonathan, ofereceu-se para lhe dar uma saída digna para Gbagbo à sua escolha. Se quiser continuar na Costa do Marfim ou se quiser partir, a Nigéria fará tudo ao seu alcance para lhe proporcionar uma reforma confortável”.

O Banco Central dos Estados Oeste Africanos aumentou a sua pressão sobre Gbagbo, na quinta-feira, bloqueando o seu acesso a fundos ali depositados. Aquele banco regional que congrega sete países afirma que apenas irá permitir a Ouattara acesso ao dinheiro, referindo-se a Ouattara como o “presidente legitimamente eleito”.

Gbagbo mantém-se, no entanto, desafiador. Os seus apoiantes, encabeçados pelo líder juvenil Charles Ble-Goude, acusou as potências estrangeiras de estarem a ameaçar a soberania da Costa do Marfim e prometeu lutar para manter Gbagbo no poder.

BLE-Goude afirma que os estrangeiros esmagaram a dignidade da Costa do Marfim e de África, desrespeitando as leis do país. Disse ele ainda que a França e as Nações Unidas estão a preparar um genocídio na Costa do Marfim. Perante tudo isto, disse Ble, a juventude da Costa do Marfim e de toda a África quer o respeito e a dignidade de África e a paz na Costa do Marfim.

Aquele líder juvenil, apoiante de Gbagbo apelou para a realização de uma manifestação, na próxima quarta-feira, em Abijan, para mostrar ao mundo que os países africanos querem decidir o seu próprio futuro.

O exército costa-marfinense manifestou o seu apoio a Gbagbo, na quinta-feira, um dia depois de Ouattara ter apelado à comunidade internacional para considerar o afastamento do poder de Gbagbo pela força.

A organização de defesa dos Direitos Humanos, Human Rights Watch emitiu um comunicado afirmando que as forças pró-governamentais estão a raptar apoiantes de Ouattara, fazendo-os “desaparecer”.

Observadores dos Direitos Humanos referem 90 casos de tortura e de tratamento abusivo, 24 desaparecimentos forçados e centenas de presos nos cinco dias que se seguiram às manifestações de protesto da oposição.

Ouattara continua retido num hotel de Abidjan, protegido por forças de paz da ONU e por antigos guerrilheiros.

A ONU afirma que a sua força de dez mil homens irá permanecer na Costa do Marfim, apesar das exigências de Gbagbo para a sua retirada do país.

Muitos observadores internacionais, incluindo o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moom, estão preocupados perante a eventualidade deste impasse político poder re-incendiar uma guerra civil, idêntica aquela que eclodiu entre 2002 e 2003.