As ideias de Amilcar Cabral “são suficientemente generosas, profundas e abrangentes para que não possam ser realizadas por uma única geração”, afirma Carlos Reis, antigo companheiro de armas do líder da luta pela independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde.
O primeiro ministro da Educação de Cabo Verde, entre 1975 e 1981, acredita que “as gerações vindouras hão de continuar por esse caminho” que ainda é longo.
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Em conversa com a VOA sobre os sonhos de Cabral, no dia em que se assinala o 49º aniversário do seu assassinato, a 20 de Janeiro de 1973, o também presidente da Associação dos Combatentes da Liberdade da Pátria de Cabo Verde afirma que, com o desaparecimento físico do líder do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), os companheiros tinham e têm a “consciência de que o preenchimento desse vazio é extremamente difícil devido à sua capacidade, sua inteligência superior”, mas reconhece que “o colectivo acaba sempre por superar as fragilidades das capacidades individuais”.
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A propósito daquela figura marcante da história, Reis lembra que não é por acaso que a Unesco adopta “as memórias dele como parte da memória do mundo”, porque ele foi “mais do que um grande cabo-verdiano, mais do que um africano, mais do que um patriota, foi um ser humano de uma envergadura invulgar, que pensou os problemas da humanidade no seu conjunto e que é ainda hoje um símbolo forte da luta dos povos que ainda sofrem e dos que se consideram espoliados de qualquer forma, da luta que os pobres, também precisam fazer, assumindo a sua auto-responsabilidade, como Cabral falava, procurando caminhos da paz, do amor ao próximo e da solidariedade”.
Os sonhos de Amílcar Cabral, segundo o antigo professor da Escola Piloto do PAIGC em Conacri, não estarão realizados "enquanto houver pobreza, que atinge a dignidade das pessoas”.
“A luta no sentido de procurar eliminar a pobreza extrema, reduzir a pobreza, fazer crescer o desenvolvimento económico e ter a certeza da sustentabilidade para o nosso crescimento é o caminho para a concretização dos sonhos" de Cabral.
Nos tempos actuais, Carlos Reis considera que esses ideais ganham novos contornos, mas com o mesmo objectivo final.
Por isso, ainda há chão pela frente porque, conclui, “as ideias de Cabral são suficientemente generosas, profundas e abrangentes para que não possam ser realizadas por uma única geração e as gerações vindouras hão de continuar por esse caminho”.
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O percurso
Natural de São Vicente, onde nasceu em 1946, Carlos Nunes Fernandes dos Reis fez seus estudos liceais na sua ilha natal e seguiu para o Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina em Lisboa em 1964. Terminou a formação em 1969.
Ainda na capital portuguesa, a meados da década, integrou a organização clandestina do PAIGC e, em Janeiro de 1970, desembarcou em Conacri, quartel-general do partido e da luta pela independência.
Com a queda do regime fascista em Portugal, a 25 de Abril de 1974, ele foi o primeiro quadro do partido a deixar Conacri e a chegar a São Vicente, no mês seguinte.
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Governo
Aos 28 anos, em 1975, assumiu o Ministério da Educação, onde se manteve até 1981.
Entre 1984 e 1989, foi embaixador de Cabo Verde em Portugal, com jurisdição também em Espanha, França, Itália e Marrocos.
Condecorado com o 2º grau da Ordem Amílcar Cabral, Comandante das Forças Armadas de Cabo Verde, na reserva, é presidente da Associação dos Combatentes da Liberdade da Pátria e está ligado como investigador à Fundação Amílcar Cabral.
Doutor Honoris Causa pela Universidade de Cabo Verde (UNI-CV), na especialidade Ciências Sociais, Humanas e Artes, em 2019, Carlos Reis é autor da obra “A Educação em Cabo Verde Um outro olhar” (2019).