Vinte anos depois da morte do jornalista Carlos Cardoso, a classe jornalística moçambicana considera que o seu legado não foi esquecido, mas sente haver limitações e intimidações que colocam em causa a liberdade de imprensa.
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Cardoso foi morto a tiro no dia 22 de novembro de 2000, numa altura em que investigava o desvio de 14 milhões de dólares do antigo Banco Comercial de Moçambique.
Os seis autores materiais do crime foram julgados e condenados em 2003 a penas compreendidas entre 23 e 28 anos de prisão, num contexto de forte pressão internacional.
Vinte anos depois,o jornalista Fernando Lima diz que não parece que a imprensa moçambicana esteja amordaçada porque "há um suporte legal que dá garantias de que não existe mordaça sobre a comunicação social", mas há limitações e intimidações no exercício da actividade jornalística.
Veja Também Carlos Cardoso, um legado não esquecido pela classe jornalística moçambicanaEle notou que jornalistas vários têm pago com um preço muito elevado no exercício da sua profissão porque "temos neste momento jornalistas desaparecidos, temos jornalistas que foram ameaçados, torturados e colocados na cadeia sem culpa formada, o que significa que não é fácil a profissão do jornalista em Moçambique".
O também presidente do Conselho de Administração do grupo privado de comunicação social Mediacoop, proprietário do jornal Savana, acrescenta, entretanto, que "tal como o Cardoso, há muitos profissionais, sobretudo jovens, que mostram brio e coragem, o que significa que há muita irreverência no novo jornalismo moçambicano. Não há, eventualmente, a mesma pureza da escrita do Cardoso, porque eraúnica, mas existe bom jornalismo em Moçambique”.
Contudo, o irmão de Carlos Cardoso, Nuno Cardoso, diz que nestes 20 anos, "ao constatarmos como é que está o estado geral do país, nós verificamos que o seu exemplo não foi duplicado".
Para Fernando Mbanze, não foi duplicado porque “nós assistimos a situações em que jornalistas são raptados até pelas Forças de Defesa e Segurança, porque temos situações em que instalações de órgãos de comunicação social são incendiadas e em que, de forma recorrente, alguns colegas são intimados a apresentarem-se nas procuradorias e nos serviços de investigação criminal. Isto significa que a classe jornalística não se sente livre no exercício da sua profissão".
Para Ernesto Nhanala, do MISA Moçambique, os jornalistas devem inspirar-se no legado de Cardoso para ultrapassar os obstáculos que têm pela frente.