O Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB), agora procurado também pela população do leste de Angola, foi colocado na rota do investimento alemão, no recente encontro em Luanda entre o Presidente João Lourenço e a shanceler Angela Merkel, num momento de desordem insuficiência de meios face à demanda da empresa.
Com várias propostas de investimentos em carteira, a maior empresa ferroviária do país, com ramais para a República Democrática do Congo e a Zâmbia, está a ser criticada por falta de trabalho de casa na altura da reabilitação dos 1330 quilómetros de linha entre as províncias de Benguela e do Moxico.
João Sebastião e familiares, utentes dos comboios do CFB, têm versões que ajudam a explicar o momento de carência e desorganização, que coincide com a paralisação de dezoito locomotivas, algumas avariadas.
“Quando estamos dentro da carruagem, com gente a mais, há muito sufoco. Tem existido desmaios, as pessoas caem’’, conta o passageiro.
Confrontada com o cenário de privatização ou mesmo de parcerias público-privadas, fonte da empresa defendeu mudanças na área de exploração, que trata da gestão de uma frota composta por 66 carruagens, 217 vagões e 56 locomotivas, muito abaixo da existente na década de 1970.
Indiferente aos números, o analista José Cabral Sande, filho de um ferroviário, diz que o projeto de reabilitação, que custou dois mil milhões de dólares ao Estado, ignorou o trabalho que facilitaria o investimento privado.
“O investimento estrangeiro tem de encontrar as residências dos funcionários em condições, os armazéns de víveres e os hospitais. Temos de pensar o CFB, as pessoas têm o hábito de descobrir, quando aqui já não se descobre nada, e estão a surgir pára-quedistas que pensam que é gerir um autocarro’’, critica o analista.
Sande considera que o investimento, seja qual for a proveniência, não terá reflexos técnicos e materiais sem melhorias na vertente social.
“Não vamos, por exemplo, esperar que seja o investidor estrangeiro a pôr o sistema de comunicação nas composições. Os maquinistas, transportando milhares de vidas humanas, andam às cegas. Há outros problemas na linha, o tipo de carril… isto não está em condições’’, alerta Cabral Sande.
É dentro desta realidade que o Governo angolano, conforme garante o director-geral do Instituto Nacional dos Caminhos-de-ferro de Angola, Ottoniel Manuel, estuda propostas para a entrada de parceiros na gestão do CFB.
“Quanto ao modelo … devemos dizer que temos várias propostas, a da Alemanha é uma delas. Vamos informar oportunamente’’, realça o dirigente.
O último relatório e contas tornado público, relativo a 2018, aponta para receitas de dois mil milhões de kwanzas, decorrentes da transportação de pessoas e mercadorias, quando os custos com o pessoal foram de doiss mil 570 milhões de kwanzas.
O CBF de Benguela, empresa que espera transportar uma média de dois milhões de passageiros e quatro milhões de toneladas de bens diversos por ano, aumentou a frequência entre as províncias do Moxico e o Huambo, que têm assistido a uma ‘’invasão’’ de cidadãos das Lundas Norte e Sul.