A vila de Cafunfo, na província angolana da Lunda Norte, tem sido foco de conflitos nos últimos anos entre as autoridades e ativistas e moradores que reclamam do facto de, apesar da riqueza local em minérios, vivem num estado de pobreza total.
Um estudo realizado pela organização não governamental angolana Handeka – Instituto para a Cidadania e o Laboratório de Ciências e Humanidades da Universidade Católica de Angola (LAB- UCAN) conclui que 69 por cento dos jovens dos 15 aos 34 anos de idade inquiridos dizem que “o Governo não respeita os direitos e liberdades fundamentais”, apesar de 94 por cento deles ansiarem por uma participação cidadã mais activa e 44 por cento afirmarem não participar na vida pública porque “o Governo não gosta”.
Veja Também Terror na Lunda Norte“Akweze a Cafunfo – Silêncio Ensurdecedor: Estudo de Caso sobre Juventude e Direitos Humanos em Cafunfo” é um estudo realizado no âmbito do projeto “Human Rights Defense (Defesa dos Direitos Humanos)”, financiado pela Ajuda da Igreja da Noruega (NCA), e que será divulgado nesta terça-feira, 11, no Auditório das Irmãs Paulinas, em Luanda.
Veja Também "Mãos Livres" denuncia ameaças a ativistas em Cafunfo e pede ao PR proteção aos defensores dos direitos humanos“O estudo apresenta-nos como a juventude se encontra numa encruzilhada entre o seu desejo de participação, inovação, criatividade e as constantes privações e violações de direitos humanos e liberdades fundamentais”, diz a gestora do projeto Leonela Massocolo numa nota divulgada pelo Mosaiko – Instituto para a Cidadania, que destaca que a investicação teve como objetivos compreender a situação dos direitos humanos dos/das jovens, considerando as especificidades do contexto (recursos naturais, extracção formal e informal de diamantes – garimpo e conflitos linguísticos), identificar os desafios e oportunidades e contribuir com propostas de estratégias que garantam a promoção dos direitos humanos e o exercício de cidadania na juventude.
Naquela vila, os resultados indicam que 69 por cento dos jovens dizem haver muita pobreza, bem como violência e 44 por cento consideram que “os direitos humanos são completamente desrespeitados ou pouco respeitados pelas autoridades locais e pelo Governo de Luanda”.
Veja Também Zecamutchima em liberdade diz que vai continuar a lutar pela autonomia da LundaEstes dados, continua a nota, “estão em conformidade com um resultado específico que sustenta a análise da cultura do medo, onde 58% dos jovens declara que as pessoas têm medo de participar e de se expressar livremente”.
O estudo revela, por outro, que os desafios e oportunidades para a juventude local são muito escassas.
“Basta considerar que 58 por cento dos respondentes apresentam sérias privações ao nível da sua escolaridade, 60 por cento encontram-se sem emprego (formal ou informal) e 45 por cento consideram que a indústria mineira tem responsabilidades não cumpridas no desenvolvimento da vila.
O lançamento do estudo será feito ante representantes de organizações da sociedade civil, instituições governamentais, estudantes universitários, associações juvenis partidárias, organizações internacionais, ativistas e jovens defensores de direitos humanos, que deverão, oa ocasião, refletirem sobre os espaços de participação e decisão.
A organização
Fundado em 1997 por missionários dominicanos, o Instituto Angolano Mosaiko foi a primeira instituição sem fins lucrativos a assumir explicitamente a promoção dos direitos humanos em Angola como a sua missão.
A organizaçao é pautada por um forte compromisso social e visa o respeito pela dignidade humana e o desenvolvimento da sociedade angolana, com o contributo de todos.
Cafunfo tem sido palco de muitos protestos contra a pobreza que têm sido repelidos pela polícia.
A 30 de janeiro de 2021, uma manifestação de residentes em protesto contra as más condições de vida numa vila riquíssima terminou em confrontos com a polícia, com relatos a indicar que o número de vítimas mortais ascendia a uma centena de pessoas.
As autoridades disseram que seis pessoas morreram, enquanto a UNITA e organizações governamentias exigem um pouco menos.
A ONU foi impedida de investigar a situação no terreno, mas vários responsáveis da ONU e de organizações não governamentais apenas para dezenas de mortos.