Milhares de pessoas saíram nesta quarta-feira, 5 de Julho, às ruas em Mindelo, a segunda mais importante cidade cabo-verdiana, para protestar contra o que consideram ser o centralismo no poder na capital do país e mudanças no sistema de Governo.
Multiplicam-se, cada vez mais, os pedidos de uma reforma do Estado com uma uma nova forma de organização do Estado e de gestão de um país pequeno, arquipelágico e pobre.
Analistas ouvidos pela VOA dizem que o país não pode adiar mais esta discussão.
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Os protestos de Mindelo realizados no dia em que se assinalou o 42o. aniversário da independência do país, podem ser mais do que um simples descontentamento, mas uma realidade que está a atingir todo o país, como diz o antigo ministro da Economia, Crescimento e Competitividade, Avelino Bonifácio Lopes.
“O regionalismo de certo modo salutar e um bairrismo exagerado que sempre existiu entre as cidades da Praia e Mindelo neste momento ganham contornos bem mais preocupantes", considera Lopes, para quem "é uma questão que ultrapassa de longe a disputa entre Mindelo e Praia, que tende a cimentar-me em todo o território nacional".
Na verdade o debate está lançado e os gritos surgem de todos os cantos.
Alexandre Novais, antigo deputado e promotor de um abaixo-assinado contra a construção do campus da Universidade de Cabo Verde apenas na capital, afirma que a atenção dada à capital nos primeiros anos após a Independência era compreensível, mas agora a situação é bem diferente.
"As assimetrias são hoje gritantes e ninguém, num jovem país e moderno como Cabo Verde, fica contente com esta situação porque as expectativas são outras, os objectivos do desenvolvimento do país são diferentes, as reivindicações são claras e regressam sempre a cada eleição, do cidadão comum às elites académicas", explica Novais.
Para aquele arquitecto e empresário, há muito que as pessoas desejam "uma organização do Estado de Cabo Verde que coadune com a nossa realidade de país arquipelágico, que tenha em conta a nossa fragmentação e insularidade".
Regionalização já
Tanto Lopes como Novais consideram que "a regionalização não pode esperar mais""O país precisa de ser regionalizado, política e administrativamente, e necessita de um diálogo abrangente, descomplexado, sem tabus, sem demagogias e com todos, com vista a encontrar as melhores soluções, os melhores modelos que não têm forçosamente de ser copiados, mas até podemos criar novos modelos", explica Alexandre Novais.
Enquanto o debate decorre, o antigo deputado e empresário propõe que se avance com a descentralização administrativa "que devia ter sido feita há muito tempo porque a Constituição já a permite".
Responsabilização dos políticos
Tal como vários observadores, o antigo governante e empresário Avelino Bonifácio Lopes aponta o dedo também à classe política que, segundo ele, "como se viu na última campanha eleitoral promete o que o país não pode dar, transmitindo às pessoas que tudo é fácil".
Neste aspecto, Lopes defende ser urgente "repensar a forma de governação, num país que é simultaneamente pequeno e fragamentado, mas ao mesmo tempo com pessoas muito bem informadas e muito exigentes".
No conversa com a VOA, ambos destacam que a regionalização deve ser profundamente discutida, de forma séria e numa óptica de partilha entre todos os espaços do território nacional.
(A VOA apresenta na rubrica Agenda Africana do dia 12 de Julho um programa alargado sobre este tema)