Cinco dias depois do acidente que deixou oito militares cabo-vendíamos mortos quando iam ajudar no combate a um incêndio de grandes dimensões no Parque Nacional da Serra da Malagueta, na ilha de Santiago, aumenta de intensidade o debate em torno das causas do acidente e, mais uma vez, vem ao de cima a falta de meios e condições para situações de emergências, mormente num país seco e montanhoso.
Com os oito corpos já enterrados com honras militares, o comandante dos Bombeiros do Município da Praia, Carlos Teixeira, em declarações à imprensa, admitiu que cansaço e fome podem ser algumas das causas do acidente porque durante os dias de combate estiveram à base de leite e bolachas e praticamente sem momentos de descanso..
As autoridades pedem calma e há quem questione o próprio futuro das Forças Armadas (FÃ).
Outra tema amplamente discutido, sobretudo nas redes sociais, é a forma como se usam os militares para determinadas missões, havendo mesmo vozes de cidadãos e de políticos que se posicionam contra o serviço militar obrigatório e advogam outras reformas nas FA..
Numa abordagem sobre o assunto, o Presidente da República que se encontrava nos Estados Unidos, pediu serenidade em relação à obrigatoriedade do serviço militar e outras questões, com José Maria Neves a realçar, no entanto, que se deve fazer uma avaliação de tudo.
“As autoridades competentes têm que analisar, ouvir as diferentes reivindicações, propostas da sociedade, dos partidos políticos, personalidades independentes e tomarmos as melhores decisões quanto ao futuro”, adiantou o Chefe de Estado, que apela à calma, serenidade e não “discutirmos a quente determinadas questões”.
Posição idêntica tem o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, que afirma esperar pela conclusão do inquérito antes de quslrque responsabilizado.
Sobre o fatídico acidente que enluta o país, o Estado Maior das FA informou que dentro de 15 a 20 dias serão conhecidos os resultados do inquérito mandado instaurar para o apuramento das causas e saber as condições da viatura que transportava os militares..
Um inquérito que o analista político José António dos Reis diz ser crucial para o apuramento de eventuais responsabilidades de comando e políticas.
Evitar debate a quente
“Em relação a tudo deve haver preocupação em termos de responsabilização, quer do ponto de vista político, operacional e de qualquer outro ponto de vista, agora eu acho que não se pode à partida estar a querer imputar responsabilidade sem antes se conhecer as conclusões das investigações... portanto não se deve aproveitar essa tragédia para fazer política e tentar tirar dividendos políticos... isso é mau”, afirma aquele psicólogo e antigo governante..
Sobre a criação de condições para combate aos incêndios e a própria evacuação médica, Reis reconhece ser inegável a sua necessidade, mas entende que o debate deve ser feito num momento mais oportuno, tendo em conta a dor e o período de luto em memória das pessoas que morreram ao serviço da nação.
Por seu turno, o brigadeiro na reforma, Carlos Pereira defende que o país deve continuar a ter FA para garantir a defesa e segurança interna e a colaboração noutras missões, mas afirma que o Governo deve investir mais na estrutura militar.
“Os meios estão praticamente obsoletos, portanto é preciso investir mais nas FA, devemos criar condições para que possam cumprir o seu papel na defesa e segurança, bem como no apoio a casos de emergências tal como aconteceu com a erupção vulcânica no Fogo, nas Cheias em São Nicolau , e outras situações de socorro”, diz aquele antigo Chefe de Estado Maior das FA..
Quanto à anunciada pensão aos familiares, diz não ser nada novo por tratar-se de uma norma que está na lei “de sangue”, quando o militar tomba em combate.
Dos militares falecidos, dois de Santiago foram enterrados ontem, enquanto os corpos dos restantes seis foram transportados na quarta-feira para as ilhas do Sal, São Vicente e Santo Antão onde foram realizadas as respectivas cerimónias fúnebres.