Cabo Verde: Partidarização da sociedade "inibe" expressão da voz dos cidadãos

Manifestação da sociedade civil contra o estado das coisas em Cabo Verde, Praia, 19 Agosto 2022

Activista e analistas políticos consideram que num Estado de direito democrático, os cidadãos devem pensar e expressar livremente as suas ideias

Em Cabo Verde, vários sectores têm ido às ruas manifestar o seu posicionamento contra o Governo, câmaras municipais, ou contra determinadas políticas ou situações sociais.

Sempre que grupos de cidadãos se mobilizam para a realização de qualquer protesto popular, surgem vozes a fazer ligações a partidos políticos ou a catalogar esses posicionamentos de oposição ao poder.

Analistas políticos e activistas ouvidos pela VOA têm outro entendimento.

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Eles consideram que num Estado de Direito democrático, os cidadãos devem pensar e expressar livremente as suas ideias, deixando de lado pensamentos cegamente partidarizados que em nada contribui para a consolidação democrática e desenvolvimento harmonioso do país.

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Bernardino Gonçalves, membro da rede das associações comunitárias que há bem poucos dias promoveu uma manifestação na cidade da Praia, diz que o caminho ainda é longo no sentido da mudança de mentalidade numa sociedade pequena e fortemente dependente do Estado, mas afirma que "é preciso dar passos até que um dia haja maior engajamento e participação nas manifestações pacíficas a bem de toda sociedade".

"Eles vão continuar a conotar, condicionar e manipular... nós temos que fazer o nosso trabalho com a verdade na sensibilização das pessoas nos bairros, nos encontros informais e formais... ir lançando as sementes até que dêem frutos", afirma o agente comunitário.

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O professor universitário Daniel Medina considera que não se pode pensar que o povo só é inteligente para votar e já não para se manifestar quando entende que as coisas não andam bem.

"Tendencialmente, temos aquela percepção de que estou a falar dos partidos, do Governo, de que estão a fazer isso particularmente a mando de alguém como se o povo não tivesse coragem para encetar novas movimentações", aponta Medina.

Por seu lado, a politóloga Roselma Évora defende uma maior formação cívica da sociedade para que possa haver participação activa das pessoas sem medo de represálias.

Ela diz que "enquanto nós continuarmos a ter um Estado com poder muito grande, praticamente hegemónico em quase todas as áreas, fica difícil também porque as pessoas acabam por condicionar a sua participação, acho que precisamos apostar na formação cívica e levar os cidadãos a atuarem de forma responsável e sem receios".

Cabo Verde tem sido palco de vários protestos nos últimos tempos, como a favor de uma melhor justiça e, mais recentemente, contra o actual estado da nação.