A conferência internacional Liberdade, Democracia e Boa Governança: Um olhar a partir de Cabo Verde”, que termina nesta terça-feira, 9, tem sido amplamente contestada pelos partidos da oposição parlamentar, que acusam o Governo de excluir os líderes do PAICV e da UCID dos painéis de debates e questionam também o benefício do evento, que custou cerca 550 mil dólares.
O MpD, partido no poder, diz que a oposição não tem visão e que está somente preocupada com o poder pelo poder e realça que a conferência visou trazer ao debate a democracia no mundo a partir do arquipélago.
Para o presidente do PAICV, principal partido da oposição, a forma como a conferência foi organizada com a exclusão da oposição na apresentação do seu ponto de vista sobre a temática, mostra que se tratou de mero jogo de marketing do Governo.
Rui Semedo chama a atenção ainda para os gastos com organização, numa altura em que há outros desafios mais importantes para os quais o Executivo diz não ter recursos.
"Investir cinquenta e cinco mil contos neste evento apenas para convencer a comunidade internacional, mas ignorando por completo o povo sofredor”, sublinha o líder da oposição.
Partido no Governo responde
Também a UCID, terceira força no Parlamento, através do seu presidente, critica a organização do evento e a exclusão da oposição parlamentar na possibilidade de participar nos debates e dar o ponto de vista sobre a democracia e boa governação.
João Luís sublinha que o Governo, ao não permitir "a participação ativa dos presidentes dos dois partidos que estão no Parlamento, quer dizer que tem algo a esconder”.
Em resposta, o secretário geral do MpD, no poder, diz a UCID não entendeu o alcance do evento, enquanto que o PAICV demonstra uma falta de compreensão do papel da oposição democrática num país livre como Cabo Verde.
“Ao invés de abordarem a conferência como uma oportunidade para contribuir positivamente para o progresso da nossa nação, a oposição está focada no poder pelo poder”, reforçaLuis Carlos Silva.
Prioridades
O jornalista e escritor José Vicente Lopes diz não fazer sentido gastar tanto dinheiro para um show-off político do Governo, quando muitas organizações de cariz social e a imprensa privada navegam num mar de dificuldades.
“Já que todos nós gostamos da democracia, há entidades em Cabo Verde, nomeadamente a Associação de Defesa dos Consumidores, os próprios jornais privados e outras entidades da sociedade civil, que para existirem têm que fazer das tripas o coração", aponta Lopes para quem o Governo "prefere gastar 55 mil contos contos em conversa furada na ilha do Sal, em vez de pegar esse dinheiro e canalizar para entidades e organismos que no dia a dia zelam para a qualidade da democracia em Cabo Verde”.
Aquele analista político lembra, no entanto, que não é a primeira vez que algo do género acontece e recorda que, no passado, quando o PAICV estava no poder também realizou uma atividade idêntica que foi muito criticada pela oposição de então, o MpD.
José Vicente Lopes conclui ser tempo de se ter outras atitudes e por isso advoga uma maior cultura de inclusão, a fim de todos posam dar o seu contributo na vida política, democrática e ao desenvolvimento do arquipélago.
No programa Washington Fora d´Horas, da Voz da América, questionada sobre a ausência de panelistas cabo-verdianos, a ministra da Presidência do Conselho de Ministros, Janine Lélis, disse que a democracia cabo-verdiana tem espaços de debate próprios e que a conferência é uma contribuição do país para a democracia e a liberdade no mundo.
Ao discursar na abertura na segunda-feira, 8,o primeiro-ministro de Cabo Verde fez uma forte defesa da democracia e da liberdade como “bens essenciais à humanidade” e sublinhou que garanti-las "é uma responsabilidade de todas as nações que querem facultar aos seus cidadãos, paz, progresso e dignidade”.
O evento, que tem a participação de políticos, representantes de organizações internacionais, como a União Europeia e a ONU, e peritos de vários continentes, termina hoje com a apresentação da "Declaração do Sal".