Anunciado há anos como o maior investimento privado externo em Cabo Verde, no valor de 270 milhões de dólares, que iria promover centenas ou milhares de empregos, o Macau Legend Developement abandonou recentemente o projeto de construção de um hotel –casino na cidade da Praia.
Para a história ficaram um hotel não concluído, muito criticado por ser um "corpo estranho" numa zona residencial da capital, Prainha, e uma pequena ponte que liga o ilhéu Santa Maria, Djéu, à cidade.
Ativistas e analistas económicos esperam que o Governo envolva os diferentes atores políticos, empresários e a sociedade civil na formatação e implementação de um novo projeto que seja abrangente e sirva a capital do arquipélago, sem esquecer a preservação ambiental e marinha.
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Com o anúncio do abandono do projeto que, segundo o plano avançado inicialmente, deveria ser inaugurado em 2021, o primeiro-ministro anunciou que o Governo vai reverter a concessão que era de 25 anos e criar condições para o surgimento de novos projetos.
“Agora vamos fazer as partes que tem a ver com todo o suporte juridico… depois ver que destino dar a esse investimento que não pode ficar assim como está… isso é claro”, disse Ulisses Correia e Silva.
O presidente da Associação de Turismo de Santiago considera que a ideia da construção de um casino na cidade da Praia foi boa, só que a localização para a construção da infraestrutura foi um erro.
Eugénio Inocêncio diz que agora deve-se aproveitar a oportunidade para desenvolver um projeto que transforme toda a área em espaços de lazer, restaurantes e belas praias balneares.
Inocêncio considera que todas as forças vivas desde o Governo, Câmara Municipal da Praia, personalidades da sociedade civil, estruturas públicas e privadas ligadas ao turismo e empresariado nacional devem juntar as vozes e forças no sentido de se traçar e implementar um projeto com ganhos amplos.
No que toca a meios para a implementação de um novo projeto, Inocêncio diz que estão ao alcance do país e realça que “são valores com retorno, não são custos mas sim investimentos… nomeadamente para se pagar eventuais créditos necesários… é há fundos internacionais para isso”.
Na mesma linha de pensamento, o presidente da Câmara Municipal da Praia considera que a paralisação do projeto deve agora ser aproveitada para se repensar e adaptar o mesmo aos reais anseios do país e à vontade dos cidadãos.
Francisco Carvalho afirma que por se tratar do município que alberga o projeto, o Governo deve envolver a Câmara e fornecer todas as informações.
“Nós já percebemos que os paraenses querem que o Djéu e a Praia da Gamboa sejam devolvida ao seu convivio… sabemos que o espaço representou para Charles Darwin aspeto central… então temos a oportunidade de incluir agora o Djéu dentro desse percurso turístico –cultural”, sustenta o autarca.
Tal como alguns ativistas e ambientalistas, também o edil praiense defende a necessidade da criação de estruturas no futuro projeto, visando estudos e preservação do ambiente e do ecossistema marinho.
Esta ideia é reforçada pela bióloga Ana Gonçalves que trabalha na Associação do Desenvolvimento e Defesa do Ambiente (ADAD).
“Tendo em conta que possui espécies endémicas e uma parte histórica, eu acho que sim que deve ser preservado e ver duma forma sustentável como é que podemos desenvolver o turismo, criar mais áreas verdes ao longo daquela costa”, defende aquela bióloga.
O acordo de concessão para a construção e exploração de uma estância turística vocacionada para jogos no ilheu de Santa Maria foi assinado com o Executivo cabo-verdiano em 2015 e a primeira pedra foi lançada em fevereiro de 2016 pelo empresário macaense, David Show.
As obras arrancaram mas, com o aparecimento de pandemia da Covid-19, ficaram em banho maria, mas agora o Macau Legend Devolopement anunciou o abandono do projecto.
Antes a empresa liderada pelo conhecido magnata de jogos tinha garantido que apresentaria um plano para a retoma das obras, o que acabou por não acontecer.